O ministro da Defesa do governo Lula, José Múcio Monteiro, surpreendeu ao revelar que buscou a ajuda do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para ser recebido pelos comandantes das Forças Armadas durante a transição de governo, no final de 2022. A declaração foi feita durante uma entrevista ao programa Roda Viva, exibida na noite de segunda-feira, dia 10 de fevereiro.
Durante a conversa, José Múcio relatou que enfrentou dificuldades para estabelecer um diálogo com os comandantes militares logo após ser anunciado como novo ministro da Defesa. Diante desse impasse, ele decidiu recorrer diretamente a Bolsonaro, com quem afirmou ter mantido uma relação respeitosa ao longo dos anos.
"Começou a primeira dificuldade: ser recebido pelos comandantes. Foi quando eu recorri ao presidente Bolsonaro. Foi meu colega por muitos anos, foi meu liderado quando fui líder do governo no Congresso. Sempre tivemos uma relação muito boa. E eu fui falar com ele: ‘Sou o novo ministro da Defesa, queria que você me ajudasse a fazer uma transição tranquila. Vai ser bom para o novo governo, vai ser bom para o seu governo que está terminando. Você conhece, eu não sou de conflito, de criar problema’", declarou Múcio.
Segundo o ministro, Bolsonaro não apenas ouviu seu pedido, como também agiu prontamente. O ex-presidente teria entrado em contato com os comandantes militares e solicitado que eles recebessem José Múcio para garantir uma transição pacífica.
A fala do ministro gerou grande repercussão política, pois desmonta a narrativa sustentada pela Polícia Federal sobre uma suposta tentativa de golpe envolvendo Bolsonaro e setores das Forças Armadas. O depoimento de José Múcio reforça a tese de que o ex-presidente atuou para garantir uma transição de governo dentro da normalidade institucional.
Desde que assumiu o cargo de ministro da Defesa, José Múcio tem adotado uma postura conciliadora com os militares, buscando manter o diálogo entre o governo e as Forças Armadas. No entanto, essa revelação específica ganha destaque em meio às investigações que colocam Bolsonaro no centro de uma suposta conspiração para impedir a posse de Lula.
Nos últimos meses, a Polícia Federal tem conduzido apurações sobre reuniões e movimentações de ex-integrantes do governo Bolsonaro que poderiam indicar tentativas de questionar o resultado das eleições de 2022. No entanto, o relato de José Múcio sugere um cenário diferente, no qual Bolsonaro teria atuado para garantir uma transição sem conflitos.
A declaração do ministro repercutiu amplamente entre aliados do ex-presidente, que enxergam na fala de José Múcio uma prova de que Bolsonaro não incentivou qualquer ação golpista. Deputados e senadores ligados ao ex-presidente rapidamente usaram as redes sociais para destacar a fala do ministro e reforçar a defesa de Bolsonaro.
Ao mesmo tempo, integrantes do governo Lula evitaram comentar diretamente a declaração de José Múcio, mas nos bastidores há quem veja a fala do ministro como uma forma de reafirmar sua independência política e consolidar sua posição como um interlocutor confiável entre o governo e os militares.
O vídeo da entrevista, onde José Múcio faz essas declarações, já circula amplamente nas redes sociais e em grupos políticos. A repercussão deve seguir forte nos próximos dias, especialmente considerando o contexto das investigações que envolvem Bolsonaro e aliados.
Com essa revelação, cresce o debate sobre até que ponto as investigações da Polícia Federal estão alinhadas com os fatos concretos e se há uma tentativa de criminalizar Bolsonaro por ações que, na realidade, podem ter sido conduzidas dentro da normalidade democrática.
