A atmosfera no Palácio do Planalto nesta quarta-feira (12) foi marcada por um evidente constrangimento. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se viu diante de um salão esvaziado em um evento que deveria celebrar um ano de investimentos na indústria da Defesa. O encontro, que contava com a presença de ministros e chefes das Forças Armadas, também esperava a participação de membros do setor privado, mas a adesão foi mínima. A cena deixou o presidente visivelmente irritado, levando-o a tomar uma decisão drástica: cancelar seu discurso e as agendas que estavam programadas para o restante do dia.
A ausência de convidados em um evento dessa magnitude sinaliza um desgaste na relação do governo com setores estratégicos da economia. O Planalto, que vinha tentando estreitar laços com a iniciativa privada e fortalecer a confiança empresarial em suas políticas, recebeu um claro recado de desinteresse ou, pior, de insatisfação. Sem empresários de peso para prestigiar o evento, a sensação no governo foi de que algo saiu muito errado.
A irritação de Lula não passou despercebida. Fontes que acompanharam o evento relataram que o presidente demonstrou impaciência desde o início e, ao perceber o baixo quórum, optou por não discursar. A decisão surpreendeu até os aliados mais próximos, pois discursos em eventos institucionais são uma das principais ferramentas políticas de Lula, que sempre soube usar as palavras para reverter cenários adversos. Mas desta vez, ele preferiu o silêncio.
O cancelamento das agendas seguintes apenas reforçou a ideia de que o presidente sentiu o golpe. Em um momento em que o governo já enfrenta desafios políticos e econômicos, a baixa adesão ao evento dá força à percepção de que Lula vem perdendo prestígio. A ausência de figuras relevantes do setor privado pode ser um indicativo de que a confiança na gestão está se deteriorando. Empresários, que já demonstravam receios quanto à condução econômica do governo, agora parecem estar adotando uma postura mais distante, o que pode trazer consequências políticas e financeiras nos próximos meses.
A situação se torna ainda mais simbólica quando se observa que, ao mesmo tempo em que Lula enfrentava um evento esvaziado, sua esposa, Janja da Silva, estava na Itália se divertindo. A primeira-dama, que costuma participar de agendas importantes ao lado do presidente, não estava presente no evento da indústria da Defesa, o que alimentou especulações sobre o isolamento crescente de Lula dentro do próprio governo.
Nos bastidores, aliados tentam minimizar o episódio, argumentando que a ausência de empresários pode ter sido um problema de agenda ou logística. No entanto, a leitura predominante entre analistas políticos é de que há um enfraquecimento progressivo da autoridade presidencial. A falta de prestígio do evento de ontem reforça uma sensação de perda de legitimidade e de respeito institucional. Se, há um ano, Lula ainda colhia os frutos de sua volta ao Palácio do Planalto, agora ele parece enfrentar um cenário de esvaziamento político.
O descontentamento do setor privado com o governo não é novidade. Desde o início do mandato, empresários manifestam preocupações com a condução econômica, com a carga tributária e com algumas sinalizações intervencionistas na economia. Apesar de tentativas de aproximação, como reuniões com ministros da Fazenda e do Desenvolvimento, a relação nunca foi plenamente restaurada. O evento desta quarta-feira parece ter sido um sintoma desse desgaste.
A atitude de Lula ao cancelar sua participação nos compromissos seguintes também acendeu alertas dentro do próprio governo. Assessores avaliam que o presidente não pode demonstrar fragilidade nesse momento, pois isso poderia ser interpretado como um sinal de que sua gestão está perdendo o controle da narrativa política. Ao invés de contornar a situação com um discurso forte, que poderia reafirmar o compromisso do governo com a indústria, Lula escolheu o caminho do silêncio e do afastamento.
O episódio desta quarta-feira pode ter sido apenas um sintoma de um problema maior que o governo enfrenta: a falta de apoio consistente de setores estratégicos. Se os sinais de isolamento persistirem, Lula pode se ver em uma posição cada vez mais delicada. Para um presidente que sempre se alimentou da proximidade com diferentes grupos da sociedade, o esvaziamento de eventos e a perda de interlocutores relevantes podem representar um desafio difícil de reverter.
Se há algo que os últimos dias deixaram claro, é que Lula percebeu o enfraquecimento de sua influência. O Planalto pode até tentar contornar os danos, mas a cena do salão vazio e da frustração presidencial permanecerá como um dos momentos mais simbólicos do atual governo.