O ministro Kássio Nunes Marques surpreendeu ao votar pela manutenção de Alexandre de Moraes como relator do inquérito que apura a suposta tentativa de golpe de Estado em 2022. A decisão ocorreu durante o julgamento no plenário virtual do Supremo Tribunal Federal (STF), iniciado no dia 6 de dezembro e com término marcado para esta sexta-feira, 13 de dezembro. A ação, movida pela defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, buscava afastar Moraes da relatoria sob a alegação de parcialidade. Com o voto de Nunes Marques, nove dos onze ministros já se posicionaram contra a ação, restando apenas o voto do ministro André Mendonça.
A decisão de Nunes Marques gerou grande repercussão entre apoiadores de Bolsonaro, que esperavam uma posição diferente do ministro indicado pelo ex-presidente em 2020. Sua escolha foi interpretada por muitos como uma aliança com o “sistema” que, segundo os críticos, tem imposto uma série de ações que visam enfraquecer Bolsonaro e seus aliados. Nas redes sociais, apoiadores do ex-presidente manifestaram indignação, classificando o voto como uma "traição" e afirmando que ele teria cedido à pressão política ou institucional.
O julgamento em questão é mais um capítulo de uma longa disputa política e jurídica envolvendo Bolsonaro e o STF. A defesa do ex-presidente argumenta que Moraes, por ser autor de decisões consideradas severas contra aliados do bolsonarismo, não teria a imparcialidade necessária para conduzir o caso. O inquérito em análise apura a suposta articulação de Bolsonaro e seus aliados em atos que poderiam configurar tentativa de subversão democrática após a derrota nas eleições de 2022. Além disso, a atuação de Moraes como relator é vista como um dos principais pilares de resistência do Supremo às investidas do bolsonarismo nos últimos anos.
No entanto, o entendimento da maioria dos ministros foi contrário às alegações da defesa. Até o momento, os votos expressam a confiança de grande parte da Corte na condução do inquérito por Moraes, que, segundo os magistrados, tem atuado dentro dos limites constitucionais e legais. A manutenção do relator reforça a mensagem de unidade do STF frente a desafios que envolvem ataques às instituições democráticas.
Apesar de já haver uma maioria formada contra a ação, o voto de André Mendonça ainda é aguardado com expectativa. Indicado por Bolsonaro em 2021, Mendonça tem se mostrado, em diversas ocasiões, alinhado aos interesses conservadores, mas também já deu sinais de independência ao divergir de pautas apoiadas por grupos políticos ligados ao ex-presidente. O posicionamento do ministro pode reforçar a unanimidade da Corte ou marcar uma postura dissidente, algo que teria impacto político relevante no contexto atual.
O resultado do julgamento também lança luz sobre o papel de Nunes Marques no STF. Desde sua indicação, o ministro era visto como um possível aliado do bolsonarismo na Corte, mas sua atuação tem revelado um perfil mais moderado do que o esperado por seus apoiadores. Essa postura tem causado críticas e especulações sobre sua real posição política, com muitos acusando-o de não corresponder às expectativas criadas por Bolsonaro e sua base.
O inquérito em questão é um dos maiores desafios enfrentados por Bolsonaro desde o fim de seu mandato. Ele já é alvo de diversas investigações, que vão desde a disseminação de notícias falsas até a suposta participação em atos antidemocráticos. A manutenção de Alexandre de Moraes na relatoria significa que o ex-presidente continuará enfrentando um cenário jurídico complexo e hostil, com desdobramentos que podem impactar seu futuro político.
Enquanto isso, o julgamento reflete o ambiente de tensão entre os poderes no Brasil, especialmente entre o Judiciário e o Executivo, que se intensificou durante a gestão de Bolsonaro. Para muitos analistas, o STF tem assumido um protagonismo crescente no combate ao que considera ameaças à ordem democrática, mas essa postura também é criticada por setores que a veem como uma interferência excessiva no campo político.
A conclusão do julgamento nesta sexta-feira deve trazer mais clareza sobre os rumos do inquérito e os desdobramentos para Bolsonaro. Contudo, independentemente do resultado final, o caso já evidenciou as divisões e as disputas de poder que permeiam a política brasileira, bem como as dificuldades do ex-presidente em lidar com as consequências de sua gestão.
A reação dos aliados de Bolsonaro ao voto de Nunes Marques, somada à pressão sobre André Mendonça, ilustra a polarização que ainda domina o cenário político do país. Enquanto o STF tenta passar a mensagem de que a Justiça é imparcial e segue os preceitos constitucionais, a base bolsonarista mantém a narrativa de perseguição e questiona a legitimidade das decisões da Corte.
O julgamento desta sexta-feira, portanto, não apenas define o futuro de um inquérito importante, mas também simboliza a contínua luta pelo equilíbrio entre os poderes e a definição dos limites da atuação judicial em um contexto de crise política e institucional.