O deputado federal Capitão Alden (PL-BA) fez duras críticas ao presidente da Câmara, Hugo Motta, após sua declaração de que dificilmente abriria um processo de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A fala de Motta, segundo Alden, não reflete a posição de todos os parlamentares, especialmente da oposição, que tem apontado indícios de crime de responsabilidade por parte do governo. Em entrevista exclusiva ao JCO, o parlamentar baiano destacou que a decisão de barrar um processo dessa magnitude não deveria caber apenas ao presidente da Casa.
A declaração de Hugo Motta repercutiu amplamente entre os deputados da oposição, que veem na fala uma tentativa de blindagem do governo. "Ele falou como representante de um poder, mas não pode falar por todos os deputados federais, ainda mais quando há indícios claros de práticas de crime de responsabilidade", afirmou Alden. Para o deputado, a possibilidade de um impeachment não pode ser descartada com base apenas na preocupação com a estabilidade política do país. Ele argumenta que, se há fundamentos jurídicos que sustentem a abertura do processo, este deve ser analisado pelo Parlamento.
Nos bastidores, parlamentares contrários ao governo têm discutido alternativas para impedir que o presidente da Câmara detenha o poder exclusivo de decidir sobre a admissibilidade de pedidos de impeachment. Alden revelou que há articulações em curso para modificar essa dinâmica e garantir que a oposição tenha mais influência na tramitação do processo. "Infelizmente, a decisão depende exclusivamente do presidente da Câmara, mas nós, como oposição, vamos trabalhar para retirar essa exclusividade do presidente da Câmara. Não é possível que a gente consiga tantas assinaturas e não seja pautado", ressaltou.
O posicionamento de Hugo Motta reflete a estratégia de aliados do governo para evitar uma crise institucional de grandes proporções. A avaliação é de que um processo de impeachment contra Lula poderia gerar um impacto negativo na economia e aprofundar ainda mais a polarização política no país. No entanto, para Alden e outros membros da oposição, a estabilidade não pode ser garantida à custa da impunidade. Segundo ele, o papel do Legislativo é fiscalizar e, se necessário, responsabilizar o chefe do Executivo, independentemente das consequências políticas.
A insatisfação com a postura do presidente da Câmara tem levado deputados oposicionistas a buscar apoio entre colegas de outros partidos para pressionar pela mudança do rito de tramitação do impeachment. A ideia é que, ao invés de depender exclusivamente da decisão do presidente da Casa, um pedido que conte com um número expressivo de assinaturas possa ser levado diretamente ao plenário para deliberação. Esse modelo reduziria a influência do comando da Câmara sobre processos de grande relevância política e permitiria que um maior número de parlamentares participasse da decisão.
A articulação para modificar as regras, no entanto, enfrenta desafios significativos. Qualquer alteração nesse sentido exigiria mudanças regimentais ou mesmo uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que precisaria do apoio de pelo menos três quintos dos deputados e senadores para ser aprovada. Diante desse cenário, a oposição busca mobilizar suas bases e ampliar a pressão popular para que o tema ganhe relevância na agenda do Congresso.
Para Alden, a resistência de Hugo Motta em sequer cogitar a abertura de um processo de impeachment é um indicativo de que a oposição precisa agir com firmeza para garantir que a fiscalização do Executivo ocorra de forma plena. "Se há um número considerável de parlamentares que veem indícios de crime de responsabilidade, o mínimo que se espera é que o assunto seja debatido. Não podemos permitir que questões dessa magnitude sejam ignoradas por uma decisão monocrática", afirmou.
O clima político no Congresso segue tenso, e a declaração do presidente da Câmara apenas aumentou a insatisfação entre os deputados da oposição. Apesar das dificuldades para viabilizar um processo de impeachment, os parlamentares contrários ao governo prometem seguir pressionando para que denúncias contra o presidente Lula sejam analisadas de forma imparcial e transparente. Enquanto isso, o Palácio do Planalto trabalha para consolidar sua base e evitar que o tema ganhe força no Legislativo.
A movimentação da oposição também pode impactar futuras disputas pelo comando da Câmara. A insatisfação com a postura de Hugo Motta pode levar partidos de direita a buscarem um nome mais alinhado com seus interesses para a sucessão na presidência da Casa. A depender do desdobramento dessa crise, o cenário político para 2026 pode ser fortemente influenciado pelas decisões tomadas agora.
Embora o impeachment ainda pareça distante, as declarações de Alden mostram que a oposição não pretende recuar em sua tentativa de responsabilizar o governo. A batalha política está apenas começando, e o desfecho desse embate dependerá da capacidade dos parlamentares de mobilizar apoio e de convencer a sociedade da necessidade de mudanças no atual modelo de tramitação do impeachment.