O acordo político entre Jair Bolsonaro e Davi Alcolumbre já começa a mostrar seus efeitos no Senado, especialmente no que diz respeito à pauta da segurança pública. Uma das propostas mais polêmicas do governo Lula para a segunda metade de seu mandato, a PEC da Segurança Pública, enfrenta agora um obstáculo significativo com a presença de Flávio Bolsonaro na presidência da Comissão de Segurança Pública do Senado. A proposta do governo ameaça a autonomia dos estados na gestão de suas forças policiais e tem sido alvo de duras críticas por parte da oposição.
A PEC, segundo seus opositores, teria como objetivo principal enfraquecer as polícias estaduais, dificultando ainda mais o combate ao crime organizado. Para críticos da medida, a intenção do governo Lula não é aprimorar a segurança, mas sim criar um ambiente mais favorável para organizações criminosas que, segundo eles, integram parte da base eleitoral petista. O próprio ex-presidente Jair Bolsonaro já havia alertado em diversas ocasiões sobre o risco de medidas que, na prática, restringem a atuação das forças de segurança em um momento em que o país enfrenta desafios crescentes na luta contra o narcotráfico e facções criminosas.
A indicação de Flávio Bolsonaro para a presidência da Comissão de Segurança Pública não foi um movimento isolado, mas sim parte de um acerto político costurado entre Jair Bolsonaro e o senador Davi Alcolumbre. Esse acordo garantiu ao filho do ex-presidente um espaço estratégico no Senado, o que agora se reflete diretamente na capacidade de barrar projetos considerados prejudiciais à segurança pública. Caso essa aliança não tivesse sido firmada, o PT teria muito mais facilidade em conduzir a tramitação da PEC, sem a resistência que agora se impõe.
A oposição ao governo Lula vem buscando estratégias para conter medidas que considera prejudiciais à segurança nacional. A tentativa de centralizar o controle sobre as forças policiais nos moldes propostos pela PEC vai na contramão do que muitos especialistas defendem. A descentralização da segurança pública sempre foi um princípio fundamental para garantir que os estados possam atuar de acordo com suas necessidades e peculiaridades regionais. A proposta do governo, no entanto, pode levar a um modelo mais burocrático e politizado, retirando a autonomia dos estados e concentrando decisões nas mãos do Executivo federal.
Flávio Bolsonaro já deu sinais claros de que não facilitará a vida do governo nessa pauta. Como presidente da Comissão de Segurança Pública, ele pode atrasar discussões, barrar avanços e até mesmo inviabilizar a PEC. Isso representa um grande revés para o governo Lula, que contava com um Senado mais alinhado para aprovar mudanças estruturais na área da segurança. A resistência dentro da comissão pode gerar um efeito cascata, mobilizando governadores e parlamentares contrários à centralização do controle sobre as polícias.
O cenário político em torno da PEC da Segurança Pública reflete o embate maior entre governo e oposição. De um lado, o Palácio do Planalto tenta avançar com propostas que aumentem o controle estatal sobre setores estratégicos. De outro, a base bolsonarista se organiza para impedir qualquer iniciativa que possa enfraquecer as forças de segurança ou beneficiar, ainda que indiretamente, o crime organizado. A polarização em torno dessa pauta tende a crescer nos próximos meses, tornando a tramitação da PEC um dos principais campos de batalha entre Lula e seus opositores.
A relação entre Bolsonaro e Alcolumbre sempre foi marcada por momentos de tensão e reaproximação. Durante o governo Bolsonaro, Alcolumbre atuou em diversas ocasiões contra interesses do então presidente, especialmente no processo de sabatina de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal. No entanto, o pragmatismo político acabou prevalecendo, e a recente aliança entre os dois garantiu a Flávio Bolsonaro um cargo estratégico no Senado. Esse movimento demonstra que, mesmo fora do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro ainda exerce forte influência sobre o cenário político e continua sendo um ator relevante na definição dos rumos do país.
Enquanto o governo Lula tenta avançar com sua agenda, a oposição liderada por Bolsonaro e seus aliados mostra que ainda tem capacidade de articulação dentro do Congresso. A PEC da Segurança Pública será um teste importante para medir a força do governo e a resistência da oposição no Senado. Com Flávio Bolsonaro na presidência da Comissão de Segurança Pública, o caminho para a aprovação dessa proposta se tornou significativamente mais difícil, o que representa uma vitória inicial para a base bolsonarista.
Nos próximos meses, a disputa em torno da PEC deverá se intensificar, com debates acalorados e pressões de ambos os lados. O governo precisará negociar e buscar apoios para evitar que a proposta seja enterrada antes mesmo de avançar. Por outro lado, a oposição usará todos os recursos disponíveis para frear qualquer iniciativa que possa comprometer a autonomia dos estados e enfraquecer as forças policiais. Esse embate promete ser um dos principais temas da agenda política nacional, com impactos diretos na segurança pública e no cenário eleitoral de 2026.