O Brasil encerrou o mês de dezembro com um saldo negativo de 535.547 postos de trabalho no mercado formal, segundo os dados divulgados nesta quinta-feira (30) pelo Ministério do Trabalho e Emprego, por meio do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O número representa o pior desempenho para um mês de dezembro desde 2020, quando teve início a série do Novo Caged. No mesmo período de 2023, o saldo também foi negativo, registrando o encerramento de 451.240 vagas, conforme os ajustes da série histórica.
O resultado reflete um total de 1.524.251 admissões contra 2.059.798 desligamentos ao longo do mês. Além disso, os números ficaram abaixo das expectativas do mercado financeiro, conforme levantamento do Projeções Broadcast, do jornal O Estado de São Paulo. As projeções indicavam um saldo negativo esperado de 487.116 vagas, com uma mediana de 405.524 postos fechados e um teto de 339.228 desligamentos. Ou seja, o fechamento de vagas superou até mesmo as previsões mais pessimistas dos especialistas.
O desempenho negativo em dezembro já era esperado, pois historicamente o mês costuma apresentar um maior número de desligamentos, principalmente devido ao fim dos contratos temporários firmados para atender às demandas de fim de ano. No entanto, a intensidade do saldo negativo chamou atenção e acendeu um alerta sobre o ritmo da economia brasileira.
Especialistas apontam que a desaceleração da criação de empregos no setor formal pode estar ligada a fatores como a alta taxa de juros, que encarece o crédito e reduz investimentos produtivos, além do impacto da política fiscal do governo. A falta de uma reforma tributária mais consolidada e os desafios na desburocratização do ambiente de negócios também são mencionados como entraves para a recuperação mais consistente do mercado de trabalho.
Apesar dos números negativos em dezembro, o saldo do emprego formal ao longo de 2024 ainda será influenciado por outros fatores, como o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), o nível de confiança dos empresários e a evolução da inflação. Para os próximos meses, o governo federal aposta em programas de incentivo à geração de emprego, como a ampliação do crédito para pequenas e médias empresas, além de medidas de estímulo ao consumo.
O Ministério do Trabalho e Emprego destacou que, apesar do saldo negativo no mês, o Brasil vem apresentando um crescimento no estoque de empregos formais ao longo dos últimos anos. Contudo, analistas do mercado alertam que a volatilidade do cenário econômico e as incertezas em relação às políticas públicas podem dificultar uma recuperação mais robusta do setor.
Olhando para o desempenho setorial, alguns segmentos da economia foram mais afetados do que outros no fechamento de vagas em dezembro. O setor de serviços, que historicamente é o maior empregador do país, registrou um alto número de demissões, especialmente em áreas como comércio e turismo, que costumam contratar temporários para o fim do ano e realizar cortes logo após as festas. A indústria e a construção civil também enfrentaram dificuldades, influenciadas pela cautela dos empresários diante das condições macroeconômicas.
Embora o mercado de trabalho ainda enfrente desafios, especialistas ressaltam que o saldo negativo de dezembro não pode ser analisado isoladamente, já que faz parte de um movimento sazonal que ocorre todos os anos. A expectativa agora é acompanhar como o governo e os setores produtivos vão reagir nos próximos meses para estimular a recuperação e garantir um crescimento sustentável na criação de vagas formais.