O ex-presidente Michel Temer (MDB) descartou publicamente a possibilidade de compor uma chapa como vice de Jair Bolsonaro (PL) em uma eventual candidatura do ex-presidente nas eleições presidenciais de 2026. Durante uma entrevista concedida à revista Veja, Temer foi categórico ao afirmar que a ideia é “impensável” e reforçou que sua decisão de afastar-se da política ativa é definitiva.
Ao abordar o assunto, Temer demonstrou gratidão pela sugestão de seu nome para o cargo, interpretando-a como um reconhecimento ao trabalho que realizou durante seu governo entre 2016 e 2018, após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Para ele, a proposta reflete respeito e consideração por sua trajetória, mas enfatizou que já encerrou seu ciclo na política.
"Eu até agradeci, acho que foi uma delicadeza que ele fez. É um reconhecimento à nossa conduta e ao nosso governo. Mas eu disse claramente que estou fora da vida pública, que seria impensável uma hipótese dessa natureza", afirmou Temer.
O ex-presidente também comentou sobre sua relação atual com Bolsonaro, que classificou como "civilizada". Segundo Temer, os contatos entre os dois são esporádicos, geralmente a pedido do próprio Bolsonaro, que solicita conselhos sobre determinados temas. Apesar da interação, ele destacou que nunca teve um relacionamento político próximo com o ex-presidente.
"É uma relação civilizada. De vez em quando ele me procura, esporadicamente. E até muito delicadamente pede para eu dar alguns palpites, conselhos. Eu faço algumas considerações. É uma relação civilizada. Não tenho nenhuma dificuldade no meu relacionamento com ele, até porque nunca tive um relacionamento político próximo. Sou ex-presidente, ele é ex-presidente, nada impede o diálogo", explicou Temer.
Desde que deixou a Presidência, Michel Temer tem mantido uma postura discreta, evitando envolver-se diretamente em disputas políticas ou assumir papéis de destaque no cenário público. A recusa em ser vice reflete essa decisão de distanciamento, enquanto ele continua dedicando-se a outras atividades fora da política.
A fala de Temer ocorre em um contexto de especulações e movimentações nos bastidores políticos para a formação de alianças com vistas às próximas eleições. Jair Bolsonaro, que enfrentou um período de inelegibilidade após condenação em ações judiciais no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tem articulado para manter-se relevante no cenário político, mesmo sem a confirmação de sua candidatura em 2026. A possibilidade de Temer integrar uma chapa com Bolsonaro, portanto, gerou questionamentos sobre o alinhamento entre os dois políticos, que possuem trajetórias marcadas por diferenças de estilo e posicionamentos.
Enquanto Bolsonaro mantém forte influência entre eleitores conservadores e aliados do espectro político à direita, Temer construiu sua imagem como um político moderado, voltado para negociações e diálogo institucional. Durante sua gestão, ele enfrentou desafios como a aprovação da reforma trabalhista e medidas para conter a crise fiscal, decisões que lhe renderam tanto críticas quanto elogios.
A rejeição de Temer à ideia de uma aliança com Bolsonaro também reflete seu entendimento do atual cenário político brasileiro. Nos últimos anos, o ambiente tem sido marcado por polarização, o que contrasta com o perfil mais conciliador que Temer procura preservar. Ainda assim, o ex-presidente afirmou que sua interação com Bolsonaro não ultrapassa os limites da cordialidade e que não há obstáculos ao diálogo ocasional entre ambos.
O posicionamento de Temer é mais um indicativo das dificuldades que Bolsonaro poderá enfrentar na busca por apoios para uma possível candidatura em 2026. Apesar de ainda contar com uma base fiel de eleitores, o ex-presidente precisará superar os efeitos de suas derrotas recentes no campo jurídico e político para se consolidar novamente como um nome forte no pleito presidencial.
Enquanto isso, Temer parece determinado a manter sua decisão de afastamento da política ativa, preferindo atuar como uma figura de referência ocasional, consultada por líderes políticos, mas sem intenção de retomar um papel de protagonismo. Sua postura reflete a busca por um equilíbrio entre a preservação de seu legado e a vontade de não se envolver nas turbulências que caracterizam o cenário político atual.
A entrevista à Veja reforça a imagem de Michel Temer como um ex-presidente que, embora aberto ao diálogo, permanece firme em sua decisão de não voltar à política. Ao descartar a possibilidade de aliança com Bolsonaro e reiterar seu afastamento, Temer envia uma mensagem clara sobre sua posição e objetivos futuros, consolidando-se como um exemplo de líder que escolheu trilhar um caminho distinto ao final de sua carreira pública.