Surge o vídeo que complica o General Braga Netto nas investigações da PF

Gustavo Mendex


 A Polícia Federal utilizou um vídeo de uma conversa entre o general da reserva Braga Netto e uma manifestante como elemento central para reforçar as acusações de que o militar estaria envolvido em uma suposta tentativa de golpe de Estado. A gravação, destacada no inquérito em andamento, serviu como base para a prisão do ex-ministro da Defesa, decretada neste sábado (14) por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O mandado foi emitido sob a justificativa de obstrução das investigações relacionadas à tentativa de ruptura democrática no país.


O diálogo mencionado no relatório da PF ocorreu no dia 18 de novembro de 2022, em frente ao Palácio da Alvorada, local onde apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniam em manifestações pedindo intervenção militar após o resultado das eleições presidenciais. Na ocasião, Braga Netto, que também havia sido candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, aparece em uma breve interação com os manifestantes, momento capturado em vídeo por uma das presentes.


De acordo com a Polícia Federal, o vídeo começa com Braga Netto afirmando que não conversaria com a imprensa. Em seguida, ele se dirige ao grupo de manifestantes e faz declarações consideradas pela PF como sugestivas. “O presidente tá bem. Está recebendo gente, sem problema nenhum, tá? Vocês não percam a fé. É só o que eu posso falar para vocês agora. Tá bom?”, disse o general na gravação. A fala foi suficiente para motivar novas interações, com uma das manifestantes se queixando das dificuldades enfrentadas pelo grupo. “A gente tá na chuva, tá no sol. Ninguém escuta…”, reclamou a apoiadora. Braga Netto respondeu: “Eu sei, senhora. A senhora fica… Tem… Mas tem que dar um tempo, tá bom? Eu não posso conversar”.


A Polícia Federal aponta a expressão “tem que dar um tempo” como um possível indício de que o general estaria articulando ações para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No inquérito, os investigadores indicam que a conversa pode revelar uma tentativa de apaziguar os apoiadores, enquanto, nos bastidores, o militar supostamente participava de estratégias voltadas para a interrupção do processo democrático. O documento acrescenta que o diálogo ocorreu apenas seis dias após o período em que, segundo a PF, Braga Netto teria traçado as primeiras diretrizes para impedir a transição de poder.


De acordo com o relatório, o conteúdo do vídeo sugere que o general buscava ganhar tempo para viabilizar ações concretas contra o sistema eleitoral e o Judiciário. A gravação, aliada a outros elementos colhidos na investigação, serviu para embasar a decisão de Alexandre de Moraes, que determinou a prisão preventiva do militar. A medida foi justificada com base no risco de interferência nas investigações em andamento e na possibilidade de destruição de provas.


A prisão de Braga Netto gerou forte repercussão política e dividiu opiniões. Aliados do general criticaram a decisão do STF, classificando-a como excessiva e acusando a operação de ser motivada por razões políticas. Parlamentares próximos ao ex-ministro afirmam que o vídeo apresentado pela PF não comprova qualquer planejamento de golpe e alegam que as falas de Braga Netto foram tiradas de contexto. Para a defesa do militar, a gravação não passa de um diálogo informal com manifestantes, sem qualquer teor conspiratório. “O general foi claro ao dizer que não podia conversar. Em nenhum momento há qualquer referência ou indício de uma tentativa de golpe”, destacou um advogado ligado ao caso.


Por outro lado, setores do governo e especialistas em direito constitucional consideram a gravação mais uma peça importante no quebra-cabeça que investiga as ações que sucederam a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022. A Polícia Federal sustenta que, ao acalmar os manifestantes e pedir paciência, Braga Netto buscava evitar o esvaziamento do movimento e, ao mesmo tempo, dar fôlego às supostas articulações contra o resultado das urnas.


A operação que resultou na prisão do general integra o inquérito mais amplo sobre a tentativa de golpe e as manifestações antidemocráticas ocorridas em diferentes pontos do país após as eleições. Nos últimos meses, a PF vem intensificando o cerco contra figuras que teriam atuado na organização e no financiamento dos atos. A prisão de Braga Netto é vista como um marco dentro da investigação, por se tratar de um nome de peso ligado ao governo Bolsonaro e com histórico de proximidade com as Forças Armadas.


Até o momento, a defesa de Braga Netto aguarda a análise de um pedido de habeas corpus que será submetido ao Supremo Tribunal Federal nos próximos dias. A expectativa é que o caso avance com a coleta de mais provas e o depoimento do general, que deverá ser ouvido pela Polícia Federal ainda nesta semana. O avanço das investigações mantém o cenário político em alerta e abre caminho para novos desdobramentos envolvendo outros nomes ligados à cúpula do governo anterior.

#buttons=(Accept !) #days=(20)

Our website uses cookies to enhance your experience. Check Now
Accept !