Randolfe tenta virar a mesa para evitar que Bolsonaro assuma o controle do Senado

Gustavo Mendex


 O senador Randolfe Rodrigues, líder do governo Lula no Congresso, está trabalhando discretamente em uma estratégia que pode alterar significativamente o cenário político do Senado para os próximos anos. O movimento busca diretamente enfraquecer os planos do ex-presidente Jair Bolsonaro, que almeja consolidar o controle da Casa Alta a partir de 2027. Randolfe apresentou recentemente um projeto de lei que, se aprovado, alterará as regras eleitorais em disputas para o Senado, causando impacto direto na articulação política bolsonarista.


Atualmente, quando dois terços do Senado são renovados, como ocorrerá nas eleições de 2026, os eleitores têm o direito de votar em dois candidatos de sua escolha. Essa regra favorece a eleição de chapas completas, permitindo que lideranças políticas com maior influência em seus estados consigam eleger aliados para as duas vagas disponíveis. No entanto, o novo texto proposto por Randolfe prevê que, em vez de dois votos, cada eleitor possa escolher apenas um candidato. Com isso, os dois postulantes mais votados assumiriam as vagas disponíveis.


A mudança, à primeira vista técnica, carrega implicações políticas profundas. Em estados considerados redutos conservadores, onde o bolsonarismo tem uma base sólida, essa alteração poderia enfraquecer a possibilidade de Jair Bolsonaro ou outros líderes de direita conseguirem emplacar os dois representantes no Senado. A divisão natural dos votos entre candidatos alinhados à direita tornaria o cenário mais favorável para que concorrentes de outras correntes ideológicas conquistassem espaço.


A articulação de Randolfe reflete a crescente preocupação do governo com o avanço das estratégias de Bolsonaro para as eleições de 2026. O ex-presidente, embora afastado da Presidência desde 2022, continua atuante nos bastidores, estruturando alianças e fortalecendo sua base eleitoral. Seu objetivo de ampliar a bancada conservadora no Congresso, especialmente no Senado, tem gerado tensões no governo e entre lideranças de esquerda, que veem nesse fortalecimento uma ameaça à governabilidade nos próximos anos.


O projeto apresentado pelo senador do Amapá ainda precisa passar pelas comissões do Congresso antes de ir a plenário. Contudo, a proposta já levanta questionamentos sobre sua motivação e legitimidade. Críticos consideram que a iniciativa não passa de uma “manobra espúria” para enfraquecer adversários políticos. No núcleo bolsonarista, a reação foi imediata, com aliados do ex-presidente denunciando o projeto como uma tentativa de manipulação eleitoral. Parlamentares da base aliada de Bolsonaro prometeram mobilizar esforços para barrar a tramitação da proposta, classificando-a como antidemocrática.


Randolfe Rodrigues, conhecido por sua atuação aguerrida no Senado, tem se destacado como uma figura-chave na defesa do governo Lula. Seu histórico, entretanto, não é isento de polêmicas. O apelido de “senador DPVAT”, atribuído a ele por adversários políticos, faz referência a antigos projetos de lei apresentados por Randolfe relacionados ao seguro obrigatório de veículos, usados como munição por críticos para atacá-lo em disputas ideológicas. Apesar disso, o senador mantém influência significativa nos bastidores políticos, utilizando sua habilidade de articulação para avançar pautas importantes para o governo.


Por outro lado, Jair Bolsonaro tem concentrado seus esforços em reunir lideranças regionais e organizar a base conservadora para as próximas eleições. A meta de ampliar o domínio da direita no Senado faz parte de uma estratégia mais ampla para consolidar uma oposição forte ao governo Lula. Bolsonaro aposta no crescimento de sua influência em estados-chave, onde seus aliados têm obtido vitórias eleitorais expressivas.


Se o projeto de Randolfe for aprovado, Bolsonaro enfrentará um desafio maior para emplacar dois senadores em estados como Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná, onde o conservadorismo predomina. A mudança forçaria os eleitores bolsonaristas a concentrarem seus votos em apenas um candidato, reduzindo as chances de uma vitória dupla. Em contrapartida, a oposição ao bolsonarismo, composta por diversas correntes ideológicas, poderia se beneficiar dessa divisão.


A proposta de Randolfe, no entanto, também precisa superar resistências dentro do próprio Congresso. Muitos parlamentares, mesmo os alinhados ao governo, estão cautelosos em apoiar medidas que possam ser interpretadas como interferências no processo democrático. Além disso, há o temor de que mudanças tão significativas nas regras eleitorais às vésperas de um pleito gerem reações negativas entre o eleitorado.


A disputa pelo controle do Senado em 2027 promete ser um dos capítulos mais acirrados da política brasileira nos próximos anos. Com o Senado desempenhando um papel crucial na aprovação de projetos e na supervisão do governo, a composição da Casa será determinante para o equilíbrio de forças no país. De um lado, Randolfe Rodrigues e o governo Lula tentam assegurar um ambiente político mais favorável à continuidade de suas políticas. Do outro, Jair Bolsonaro busca consolidar uma base parlamentar que garanta força para a direita nos anos seguintes.


Enquanto isso, a sociedade civil e especialistas acompanham o desenrolar desse embate, atentos aos desdobramentos que podem surgir. As mudanças propostas por Randolfe ainda terão um longo caminho a percorrer no Congresso antes de se tornarem realidade. Até lá, a batalha entre as forças políticas continuará a moldar o cenário eleitoral de 2026, com cada lado buscando reforçar sua posição e conquistar o apoio da população. O futuro do Senado, peça-chave na governança do Brasil, está em jogo, e o embate entre Randolfe e Bolsonaro reflete a intensidade dessa disputa.
Tags

#buttons=(Accept !) #days=(20)

Our website uses cookies to enhance your experience. Check Now
Accept !