PF, a foto de Gilmar em aeroporto e a inacreditável ligação com a suposta tentativa de "golpe"

Gustavo Mendex


 A Polícia Federal revelou novas informações sobre a investigação da suposta tentativa de golpe durante o período final do governo de Jair Bolsonaro, trazendo à tona a ligação de um dos indiciados com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. Conforme o relatório enviado ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, Reginaldo Vieira de Abreu, coronel da reserva do Exército, compartilhou uma foto de Gilmar Mendes no aeroporto de Lisboa, Portugal, com o general da reserva Mário Fernandes, apontado como um dos principais articuladores do plano golpista.


A imagem, capturada no dia 20 de novembro de 2022, mostra Gilmar Mendes durante o embarque para Brasília. De acordo com a PF, Reginaldo estava no mesmo voo que o ministro e teria enviado a foto ao general Fernandes, que já havia sido indiciado anteriormente. A descoberta foi feita através do sistema de armazenamento em nuvem de Mário Fernandes, onde os investigadores encontraram o registro, consolidando o que consideram mais uma peça no quebra-cabeça da articulação para a elaboração da chamada "minuta do golpe".


A PF contextualizou o momento em que a foto foi enviada, apontando que ela coincide com o período em que os investigados teriam produzido a primeira versão do documento que propunha ações golpistas, incluindo a prisão de Gilmar Mendes. Esse detalhe foi reforçado pelo depoimento de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que colaborou com as investigações.


O coronel Reginaldo Vieira de Abreu, ao ser interrogado sobre o registro fotográfico, optou por permanecer em silêncio, exercendo seu direito de não responder às perguntas dos investigadores. No entanto, os delegados afirmam que o ato de monitorar Gilmar Mendes durante sua viagem reforça o cenário de que os investigados buscavam informações estratégicas para embasar a execução de um plano de ruptura institucional.


Com os três novos indiciamentos, incluindo Reginaldo, o número de investigados no caso subiu para 40. Entre os nomes já conhecidos estão o ex-presidente Jair Bolsonaro e os generais Braga Netto e Augusto Heleno, ex-ministros do governo. A PF acredita que o esquema teria contado com apoio direto de militares da reserva e aliados políticos próximos a Bolsonaro.


O relatório apresentado ao STF destaca que o período de monitoramento do ministro coincide com os momentos de maior tensão política do país, após as eleições de 2022. O clima de instabilidade teria sido alimentado por declarações de líderes políticos, discursos de contestação ao resultado eleitoral e mobilizações promovidas por apoiadores do então presidente. A minuta do golpe, revelada anteriormente, detalhava medidas como a intervenção em instituições democráticas e prisões de ministros do STF, incluindo Gilmar Mendes.


Para especialistas em Direito e Justiça, o caso representa um dos episódios mais delicados da história política recente do Brasil, com desdobramentos que podem influenciar diretamente o futuro político de figuras importantes, como o ex-presidente Jair Bolsonaro. Contudo, aliados do ex-presidente têm classificado as investigações como uma tentativa de perseguição política, argumentando que as acusações seriam frágeis e parte de um esforço para incriminá-lo.


A narrativa de que o "sistema" estaria agindo para atingir Bolsonaro vem sendo alimentada por apoiadores e figuras públicas que questionam a imparcialidade do inquérito. Segundo esses críticos, o caso estaria sendo conduzido com o objetivo claro de inviabilizar qualquer possibilidade de retorno político do ex-presidente. Eles argumentam que as investigações teriam caráter seletivo e estariam buscando criar ligações que, na prática, não sustentam uma acusação sólida contra Bolsonaro.


Enquanto isso, a Polícia Federal segue aprofundando as investigações. O número crescente de indiciados e a inclusão de militares da reserva entre os envolvidos reforçam a tese de que o plano tinha, ao menos em parte, articulação estratégica. Entretanto, a conexão direta de Jair Bolsonaro com a elaboração da minuta ainda é alvo de questionamento, já que as provas apresentadas até o momento são interpretadas como indícios indiretos de sua participação.


No cenário político, o caso tem gerado intensos debates sobre os limites da oposição e as consequências de investigações que envolvem altos escalões do poder. De um lado, críticos do ex-presidente defendem que o avanço das apurações é necessário para garantir a responsabilização de atos antidemocráticos. Por outro, apoiadores de Bolsonaro alegam que há um esforço para minar o legado do ex-presidente e desviar o foco de outros problemas enfrentados pelo atual governo.


Com a expectativa de novos desdobramentos no caso, a sociedade brasileira segue dividida, acompanhando de perto as ações da PF e as decisões do STF. Enquanto isso, figuras centrais da política nacional tentam se reposicionar, ora buscando se distanciar das acusações, ora utilizando o discurso de perseguição política para fortalecer suas bases eleitorais. O desenrolar dessa investigação pode marcar um ponto de inflexão no cenário político do Brasil, com repercussões que vão além do caso em si e atingem as estruturas de confiança nas instituições democráticas.

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