O deputado federal Maurício Marcon fez um desabafo contundente durante o lançamento da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão, denunciando episódios de censura e perseguição política no Brasil. Em seu discurso, Marcon relatou que foi censurado na tribuna do plenário ao criticar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, chamando-o de "bananão". Segundo ele, a declaração foi retirada das notas taquigráficas após uma determinação da presidência da Câmara.
"Hoje eu fui censurado no meu discurso do plenário. Chamei Rodrigo Pacheco de ‘bananão’ e o presidente me disse: ‘vou tirar das notas taquigráficas, porque eu achei que não tá legal’. Mas a gente já viu o que está acontecendo. Enquanto o lado de lá, da esquerda, chama o Bolsonaro de genocida, nos chamam de assassinos, tudo pode, tudo se mantém dentro das notas taquigráficas, e nós não podemos fazer mais nada. São pequenos sinais que a gente vai vendo", afirmou.
O parlamentar destacou que a censura no Brasil ocorre de diversas formas e mencionou que ela pode ir desde alterações em discursos parlamentares até ações mais graves, como buscas e apreensões em residências de opositores do governo. "Essa censura é feita de vários modelos. Ela vai desde tirar uma palavra que tu coloca na nota taquigráfica até invadir a casa do líder da oposição", declarou.
Marcon também criticou o que considera uma perseguição sistemática contra a oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Para ele, o Estado tem utilizado sua estrutura para intimidar adversários políticos sob o pretexto de defesa da democracia. "O Estado brasileiro hoje usa a sua força para perseguir quem ele vê como inimigo e vende isso como defesa da democracia. É isso que a gente está vivendo", afirmou.
O deputado questionou o sistema judicial brasileiro, criticando especialmente o papel do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele levantou dúvidas sobre a imparcialidade e os poderes concentrados na Corte, que, segundo ele, atua de maneira incompatível com os princípios democráticos. "Eu não sou advogado, posso estar falando bobagem, mas não consigo entender que alguém seja juiz, vítima e acusador. Não faz sentido. É uma anomalia. Isso é no Supremo, onde tu é julgado e tu não tem nem como tu recorrer", apontou.
Marcon também fez uma comparação com a situação política da Venezuela, alertando para o que ele enxerga como um avanço autoritário no Brasil. O parlamentar mencionou a decisão da Suprema Corte venezuelana, em 2019, que retirou da Assembleia Nacional o poder de legislar, e traçou paralelos com as ações do STF brasileiro. "Muitos diziam que a Venezuela estava muito longe. Em 2019, a Suprema Corte da Venezuela decidiu que a Câmara não poderia mais legislar. Ela usurpou os poderes. É a mesma coisa que os ministros do Supremo, aqui do outro lado da Praça dos Três Poderes, estão fazendo neste momento", afirmou.
Para Marcon, a atuação do STF ao legislar sobre temas que não estão expressamente definidos na Constituição é um exemplo claro de invasão de competências. Ele sugeriu, com ironia, que o Congresso também poderia assumir funções que pertencem ao Judiciário. "Talvez, nós poderíamos dizer que, quando eles não julgam os bandidos, a gente pode condenar eles aqui na Casa também, já que a ideia deles é essa: ‘se eles não fazem, a gente faz’", criticou.
O deputado encerrou seu discurso com uma reflexão sobre o futuro da democracia no país. Ele mencionou a possibilidade de mudanças somente em 2027, após a próxima composição do Senado, e apontou para a necessidade de ajuda externa ou divina diante do que considera um cenário preocupante. "Então é assim: ou o Trump nos ajuda, ou os céus nos ajudam, ou o Senado nos ajuda em 2027, se não nós...", afirmou, deixando no ar o desfecho de sua frase.
O discurso de Maurício Marcon reflete um clima de tensão crescente no Congresso Nacional, especialmente no contexto das disputas entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. A Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão, lançada no evento, surge como uma tentativa de articular parlamentares em defesa do que consideram valores fundamentais para o funcionamento da democracia. No entanto, o discurso também expõe as divisões políticas profundas que permeiam o cenário brasileiro, com acusações mútuas de autoritarismo entre os diversos setores do poder.
A fala de Marcon ecoa um sentimento de insatisfação compartilhado por parte da oposição, que enxerga no atual governo e em setores do Judiciário uma ameaça à liberdade de expressão e aos direitos democráticos. A Frente Parlamentar promete ser um palco de debates intensos nos próximos meses, à medida que as tensões entre os poderes continuam a escalar.