Defesa de Daniel Silveira acusa Moraes de “tortura” após nova decisão

Gustavo Mendex


 O ex-deputado federal Daniel Silveira foi preso novamente na véspera de Natal, após determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão ocorreu apenas quatro dias após Silveira ter conquistado a liberdade condicional, que foi revogada por descumprimento das condições impostas pela Justiça. A defesa do ex-parlamentar classificou a medida como “tortura, arbitrária, ilegal e irracional”, acusando o STF de instaurar um suposto "Estado de Exceção" no Brasil.


De acordo com os autos, a nova detenção foi motivada por um episódio ocorrido no último sábado, 21 de dezembro. Silveira, que estava internado em um hospital em Petrópolis, no Rio de Janeiro, deixou a unidade médica após a meia-noite e só chegou à sua residência às 2h10. Com isso, ele ultrapassou em mais de quatro horas o horário permitido para seu retorno, violando uma das condições estabelecidas para a concessão da liberdade condicional. A justificativa apresentada pela defesa foi que o ex-deputado precisava de atendimento médico e que sua permanência no hospital era necessária para a recuperação de sua saúde. Entretanto, Moraes considerou a conduta como uma tentativa deliberada de burlar as restrições judiciais.


Na decisão que determinou a manutenção da prisão, o ministro afirmou que Silveira usou a internação como um “álibi” para descumprir as regras impostas. Além disso, foi decidido que ele retornaria ao regime fechado, cumprindo a pena em Bangu 8, no Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio de Janeiro. A audiência de custódia ocorreu na manhã do dia 24 de dezembro e contou com a presença do advogado de defesa, Paulo Cesar de Faria, e da esposa do ex-parlamentar, Paola da Silva Daniel. Durante a sessão, o advogado questionou a proporcionalidade da decisão, alegando que o episódio envolvendo o hospital não configurava um descumprimento grave e que as circunstâncias haviam sido mal interpretadas.


Logo após a audiência, a defesa divulgou uma nota oficial, na qual acusou o Estado brasileiro de práticas que caracterizariam tortura e arbitrariedade. Segundo o advogado de Silveira, o caso será denunciado a autoridades internacionais como exemplo de violação aos direitos humanos e ao devido processo legal. “Denunciaremos o Estado brasileiro às autoridades internacionais pela prática inequívoca de tortura”, declarou a defesa, que também criticou a postura de Moraes. A nota afirmou que a decisão do ministro reforça a existência de um "Estado de Exceção", em que as regras democráticas e jurídicas são supostamente desconsideradas em benefício de interesses políticos.


Desde que começou a enfrentar processos judiciais, Silveira tem sido alvo de decisões rigorosas por parte do STF, especialmente em relação ao descumprimento de medidas impostas pelo tribunal. O ex-deputado foi condenado anteriormente a oito anos e nove meses de prisão por incitação à violência contra instituições democráticas e desobediência às decisões da Justiça. O caso ganhou destaque por envolver ataques diretos ao Supremo e a seus ministros, incluindo Alexandre de Moraes. Posteriormente, Silveira chegou a receber um perdão presidencial concedido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, mas o STF entendeu que o indulto não extinguia todas as punições relacionadas ao processo.


A prisão mais recente é vista por críticos como mais um capítulo no embate entre Silveira e o STF, com implicações tanto jurídicas quanto políticas. A defesa do ex-deputado argumenta que a postura do tribunal é desproporcional e fere princípios básicos da Justiça, enquanto os apoiadores do Supremo defendem que as decisões são necessárias para assegurar o cumprimento das leis.


Além do debate jurídico, o episódio reacendeu discussões sobre os limites entre liberdade de expressão e ataques às instituições democráticas. Silveira, que ganhou notoriedade como um dos principais aliados de Bolsonaro durante seu mandato, continua sendo uma figura polarizadora no cenário político brasileiro. Enquanto seus apoiadores consideram as decisões do STF como uma perseguição política, seus críticos afirmam que as ações de Silveira representam uma ameaça ao Estado de Direito e à estabilidade das instituições.


O caso também gerou reações nas redes sociais, com manifestações de apoio e críticas ao STF, especialmente ao ministro Alexandre de Moraes. Alguns políticos e influenciadores ligados à direita declararam solidariedade a Silveira, enquanto setores da oposição destacaram a gravidade das acusações contra o ex-deputado e a necessidade de que as decisões judiciais sejam respeitadas.


Por enquanto, Silveira permanece em Bangu 8, aguardando os próximos desdobramentos judiciais. A defesa informou que continuará buscando alternativas legais para reverter a decisão, mas reconhece que o cenário atual é desafiador devido à postura firme do STF. Paralelamente, o caso deverá ganhar ainda mais atenção no contexto internacional, com a promessa de denúncia às organizações de direitos humanos feita pela defesa.


Essa nova prisão de Daniel Silveira reafirma os desafios enfrentados pelo Judiciário brasileiro na aplicação da lei em um cenário político polarizado, ao mesmo tempo em que evidencia os conflitos entre as instituições e figuras públicas que desafiam seus limites. A continuidade do caso deverá ter repercussões significativas, não apenas no campo jurídico, mas também na esfera política e social, sobretudo em um momento de intensa disputa por narrativas sobre democracia e liberdade no país.

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