A picanha mais cara dos últimos 18 anos derruba mais uma promessa de Lula

Gustavo Mendex


 O brasileiro que pretende incluir picanha no cardápio da ceia de Réveillon deste ano deve preparar o bolso. O preço do corte nobre de carne bovina registrou aumento significativo em comparação ao fim de 2023. De acordo com dados mais recentes do Instituto de Economia Agrícola do Governo de São Paulo, o preço médio do quilo da picanha em novembro de 2024 chegou a R$ 77,44. O valor representa um acréscimo de R$ 9,77 em relação ao preço médio registrado no mesmo período do ano passado, que era de R$ 67,67.


O levantamento foi realizado com base nos custos da carne bovina no Estado de São Paulo, que frequentemente serve como referência para o restante do país. Este aumento no preço da picanha reflete um cenário mais amplo de alta nos custos de produção e comercialização de alimentos no Brasil. Entre os principais fatores que pressionaram o preço da carne estão o aumento nos custos de insumos agropecuários, como ração e transporte, além de oscilações no mercado interno e externo. Com isso, o impacto é sentido diretamente pelo consumidor final, que, em muitos casos, já enfrenta dificuldades para equilibrar o orçamento doméstico em meio à inflação que afeta diversos setores.


O aumento chama ainda mais atenção devido à promessa feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a campanha eleitoral de 2022. Na ocasião, Lula afirmou que, caso eleito, buscaria proporcionar condições para que o brasileiro pudesse consumir picanha e cerveja novamente, associando o consumo desses itens a uma retomada do poder de compra e da qualidade de vida. Durante uma entrevista ao Jornal Nacional, o petista declarou: “Esse país tem que voltar a crescer, tem que voltar a ser feliz, tem que voltar a gerar emprego. O povo, eu digo sempre, o povo tem que voltar a comer um churrasquinho, a comer uma picanha e tomar uma cervejinha”. Contudo, a realidade econômica atual aponta que o acesso ao tradicional churrasco brasileiro continua sendo um desafio para muitas famílias.


Especialistas destacam que a alta no preço da picanha está inserida em um contexto mais amplo de aumento dos custos alimentares. Segundo o economista Sérgio Braga, do Instituto de Economia Agrícola, o encarecimento da carne bovina, especialmente de cortes nobres, como a picanha, é influenciado por uma série de fatores. "A cadeia de produção de carne no Brasil é complexa e sensível a variações no preço de insumos como soja e milho, que servem de base para a alimentação do gado. Além disso, temos o impacto do dólar, já que grande parte da produção brasileira é exportada, o que reduz a oferta interna e pressiona os preços no mercado local", explica.


Outro ponto relevante mencionado pelos especialistas é o aumento do consumo global de carne bovina. O Brasil, como um dos maiores exportadores mundiais, tem direcionado boa parte de sua produção para atender à demanda externa, especialmente de países asiáticos, como a China. Isso reduz a oferta interna, tornando cortes como a picanha ainda mais caros para os consumidores brasileiros.


Para muitas famílias, o preço elevado da picanha significa repensar o cardápio das festas de fim de ano. Enquanto alguns optam por substituições mais acessíveis, como carnes de frango ou suína, outros consumidores preferem buscar promoções em supermercados para tentar manter o corte no cardápio, ainda que em menor quantidade. Segundo o comerciante Ricardo Pereira, proprietário de um açougue em São Paulo, a procura por picanha se mantém alta, mesmo com o preço elevado. "As pessoas ainda compram, mas em menor quantidade. Elas não querem abrir mão da tradição, mas também estão sentindo o peso no bolso", conta.


A elevação no preço da picanha também reacendeu o debate sobre o poder de compra dos brasileiros e a inflação de alimentos no governo atual. Apesar dos esforços do governo federal para implementar medidas de contenção de preços, como a redução de impostos em alguns setores e programas de auxílio econômico, o impacto no mercado de alimentos essenciais e no custo de vida ainda é motivo de preocupação.


No entanto, há divergências entre especialistas e representantes do setor sobre como lidar com os desafios. Enquanto alguns defendem o aumento da oferta interna para reduzir os preços ao consumidor, outros apontam para a necessidade de medidas estruturais que fortaleçam a economia como um todo, gerando maior estabilidade e poder de compra para a população. "A picanha é quase um símbolo da ascensão social no Brasil. O que estamos vendo é que, apesar de melhorias pontuais, a inflação ainda afeta profundamente o bolso do brasileiro, especialmente nas datas comemorativas, quando o consumo aumenta", avalia Braga.


Com o Réveillon se aproximando, os consumidores seguem buscando alternativas para manter as tradições e celebrar a chegada do novo ano. Embora o preço da picanha esteja mais alto, a criatividade e o esforço para manter o espírito festivo continuam sendo características marcantes do brasileiro, que, entre dificuldades e adaptações, tenta celebrar a virada com esperança de dias melhores.

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