A pergunta do delegado Fábio Shor e a resposta de Mauro Cid que atingiu Braga Netto em cheio

Gustavo Mendex


 Em uma série de depoimentos que abalaram o cenário político brasileiro, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, trouxe à tona declarações que implicam diretamente o general Braga Netto em uma investigação envolvendo reuniões, dinheiro em espécie e supostos pedidos de intervenção militar. O caso, que segue em análise pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ganhou novos contornos a partir de uma pergunta crucial feita pelo delegado Fábio Shor, da Polícia Federal, durante o interrogatório. A resposta de Cid foi suficiente para fundamentar a prisão do general, aprofundando a crise em torno do ex-presidente Bolsonaro e de figuras próximas ao seu governo.


No depoimento de delação premiada concedido à Polícia Federal em 11 de março de 2024, Mauro Cid relatou uma reunião realizada na casa de Braga Netto. Segundo ele, na ocasião, militares discutiram a conjuntura política nacional, destacando temas como manifestações e pedidos de intervenção militar. Em um tom cauteloso, Cid disse que não se recordava de detalhes, mas lembrou que precisou sair antes do término do encontro para retornar ao Palácio da Alvorada. Apesar disso, o episódio foi descrito como um marco na narrativa de eventos que sustentam a investigação.


Meses depois, em 21 de novembro, Mauro Cid voltou a ser interrogado, dessa vez em audiência no STF. Nesse segundo depoimento, ele revelou um fato até então omitido: um novo encontro, no qual Braga Netto teria entregue uma sacola de vinho contendo dinheiro. De acordo com Cid, os recursos foram obtidos com apoio de empresários do agronegócio e tinham como objetivo financiar uma operação previamente discutida. A delação foi complementada com detalhes que reforçaram as suspeitas sobre a participação de altos escalões militares em manobras políticas durante o governo Bolsonaro.


A validade do acordo de colaboração de Mauro Cid foi questionada após investigadores apontarem possíveis omissões em suas declarações anteriores. Mensagens apagadas de seu celular, recuperadas durante a prisão de integrantes de um grupo denominado “kids pretos”, reforçaram as dúvidas sobre a veracidade dos relatos. Apesar disso, o ministro Alexandre de Moraes defendeu a continuidade do acordo, destacando que eventuais mentiras ou omissões poderiam ser analisadas pelo Judiciário ao final do processo.


No início de dezembro, Mauro Cid foi novamente confrontado pela Polícia Federal, desta vez com documentos apreendidos que indicavam a atuação de intermediários de Braga Netto em tentativas de abordar seus pais. Durante o interrogatório, Cid afirmou que essas aproximações ocorreram logo após sua soltura. Segundo ele, as abordagens tinham como objetivo obter informações sobre os termos de sua colaboração com a Justiça. Para evitar revelar qualquer detalhe do acordo, Cid disse que desviava as conversas e desconversava.


A investigação ganhou força com a pergunta decisiva do delegado Fábio Shor, que questionou Cid sobre as tentativas de Braga Netto de acessar informações confidenciais. Ao ser indagado se o general tentou, de fato, obter detalhes do acordo de colaboração, Mauro Cid confirmou: “Isso”. Essa declaração foi considerada um elemento-chave para justificar a prisão de Braga Netto, que agora enfrenta graves acusações.


A detenção do general repercutiu fortemente nos bastidores políticos e entre os apoiadores de Jair Bolsonaro. Muitos interpretam a prisão como parte de uma estratégia maior para envolver o ex-presidente em investigações que poderiam levar à sua própria detenção. Entre os aliados de Bolsonaro, a percepção é de que há uma tentativa deliberada de construir narrativas capazes de desgastá-lo politicamente e criminalizar sua gestão.


Por outro lado, as autoridades responsáveis pelo caso destacam a importância de esclarecer todos os pontos levantados por Mauro Cid e investigar as conexões entre os envolvidos. Para o STF e a Polícia Federal, o objetivo principal é apurar a extensão das ações atribuídas a Braga Netto e aos demais mencionados, garantindo que os fatos sejam devidamente analisados e julgados.


A delação de Mauro Cid é vista como um dos capítulos mais impactantes de uma série de investigações que colocam em xeque práticas adotadas durante o governo Bolsonaro. Com desdobramentos que vão desde reuniões em residências oficiais até entregas de dinheiro em espécie, os relatos abrem margem para interpretações e acusações que podem reverberar por anos no cenário político nacional.


Enquanto isso, o destino de figuras como Braga Netto e o próprio Bolsonaro permanece incerto, dependendo do desenrolar das investigações e da robustez das provas apresentadas. A prisão do general simboliza um momento crítico para a narrativa de defesa bolsonarista, que enxerga nas ações da Justiça uma perseguição política orquestrada. Por outro lado, os investigadores reforçam que estão cumprindo seu dever de garantir transparência e legalidade, independentemente do impacto político das descobertas.


Este caso ainda promete novos desdobramentos, com possíveis implicações para outras figuras de destaque. No centro da controvérsia, Mauro Cid segue como uma peça-chave, cuja colaboração pode ser tanto uma arma poderosa quanto um risco potencial, caso sua credibilidade seja colocada em xeque. Enquanto isso, o Brasil acompanha atentamente cada passo desse processo, que pode mudar o curso de sua história política recente.

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