Projeto que reabilita Bolsonaro para eleições em 2026 ganha força na Câmara

Gustavo Mendex


 Na Câmara dos Deputados, uma articulação de parlamentares do PL, com apoio de integrantes do Centrão, busca alterar a Lei da Ficha Limpa para viabilizar a candidatura do ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2026. O movimento ganhou força recentemente e tem provocado embates nos bastidores do Congresso. A proposta, apresentada pelo deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), pretende reduzir o período de inelegibilidade de políticos condenados por crimes eleitorais de oito para dois anos, o que permitiria a participação de Bolsonaro no próximo pleito presidencial.

Inicialmente, o projeto contou com o apoio de 73 deputados, a maioria do PL. No entanto, nas últimas 24 horas, mais 20 parlamentares manifestaram interesse em subscrever a proposta, ampliando sua base de apoio dentro da Câmara. O relator designado para a matéria é o deputado Filipe Barros (PL-PR), um dos aliados mais próximos de Bolsonaro. O texto está atualmente na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), um dos colegiados mais estratégicos do Congresso, onde propostas podem ser barradas antes de chegarem ao plenário.

O Partido dos Trabalhadores (PT) tem intensificado sua articulação para garantir o comando da CCJ com o objetivo de impedir o avanço da proposta. A sigla entende que a mudança na Lei da Ficha Limpa beneficiaria diretamente Bolsonaro, que foi condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação nas eleições de 2022. Com essa condenação, ele foi declarado inelegível por oito anos, ficando impossibilitado de disputar eleições até 2030. Se a proposta for aprovada, esse período cairia para apenas dois anos, permitindo sua participação no pleito de 2026.

Diante da resistência da oposição, integrantes do Centrão sugeriram à bancada bolsonarista que o projeto fosse relatado por um parlamentar de perfil menos ideológico, o que poderia aumentar as chances de aprovação. Como se trata de um projeto de lei complementar, a iniciativa precisa de 257 votos favoráveis para ser aprovada no plenário da Câmara. Embora o PL tenha a maior bancada da Casa, com 99 deputados, a legenda precisará de apoio de outros partidos para garantir a maioria necessária.

Caso o PT consiga a presidência da CCJ e dificulte a tramitação do projeto, os bolsonaristas já preparam uma estratégia alternativa. A intenção é apresentar um pedido de urgência ao colégio de líderes para que o texto seja levado diretamente ao plenário, sem precisar passar por comissões temáticas. Esse tipo de manobra já foi utilizada em outras ocasiões para acelerar a votação de matérias de interesse do governo ou da oposição.

A tentativa de flexibilizar a Lei da Ficha Limpa gerou reações no meio político e jurídico. Parlamentares da oposição classificaram a iniciativa como um "retrocesso democrático" e acusaram o PL de tentar modificar a legislação para atender a interesses específicos. Líderes do PT, do PSOL e da Rede Sustentabilidade afirmaram que vão trabalhar para barrar qualquer mudança que beneficie diretamente Bolsonaro. Já defensores do projeto alegam que a legislação atual é excessivamente rígida e que a redução do tempo de inelegibilidade garantiria maior equilíbrio no processo eleitoral.

Criada em 2010, a Lei da Ficha Limpa foi um marco no combate à corrupção e à impunidade na política brasileira. Ela surgiu a partir de uma iniciativa popular que reuniu mais de 1,6 milhão de assinaturas e estabeleceu critérios mais rigorosos para a participação em eleições. Entre as regras previstas, está a inelegibilidade por oito anos de políticos condenados por órgãos colegiados por crimes como corrupção, abuso de poder econômico e eleitoral. Alterar essa norma poderia abrir brechas para a volta de outros políticos que também foram impedidos de concorrer por decisões da Justiça Eleitoral.

Nos bastidores, a expectativa é que a disputa pelo comando da CCJ seja decisiva para o futuro da proposta. A comissão é a primeira etapa da tramitação e tem poder para barrar ou modificar o texto antes que ele seja submetido à votação no plenário. Caso o projeto avance, a pressão política e social sobre os deputados será intensa, já que a flexibilização da Lei da Ficha Limpa pode ter impactos diretos na credibilidade do sistema eleitoral e na percepção da sociedade sobre a impunidade na política.

O cenário ainda é incerto, mas a movimentação do PL e do Centrão indica que a questão será um dos temas centrais do debate político nos próximos meses. A possível candidatura de Bolsonaro em 2026 é vista como um fator decisivo para a reorganização da direita no Brasil, e qualquer mudança na legislação eleitoral pode influenciar diretamente o jogo político do país. A disputa pela CCJ, as negociações entre os partidos e a mobilização da sociedade serão elementos cruciais para definir os rumos dessa articulação.

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