Nos últimos dias de seu mandato à frente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) surpreendeu ao registrar um pedido de impeachment contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. A solicitação, originalmente protocolada pelo deputado Bibo Nunes (PL-RS) em 28 de agosto do ano passado, permaneceu no sistema do Senado sem qualquer andamento significativo até que, às vésperas da troca de comando no Legislativo, foi oficialmente recebida pela Casa.
A equipe do parlamentar foi notificada sobre o andamento do pedido na quinta-feira, dia 31, por meio do Infoleg, sistema que permite o acompanhamento de trâmites no Congresso Nacional. A formalização deste requerimento ocorre em meio a uma série de movimentações semelhantes promovidas por Pacheco nos últimos dias de sua gestão, já que outros seis pedidos de impeachment contra ministros do STF também foram registrados no mesmo período.
O pedido de Bibo Nunes se fundamenta no episódio envolvendo Alexandre de Moraes e sua família no aeroporto de Roma, em julho de 2023. Na ocasião, o ministro e seus familiares se envolveram em uma confusão com o empresário Roberto Mantovani. O deputado sustenta que houve adulterações nas imagens do ocorrido e que tal fato justificaria a abertura do processo de impeachment contra Moraes.
Ao tomar conhecimento da inclusão do requerimento no sistema do Senado apenas no final do mandato de Pacheco, Nunes utilizou suas redes sociais para criticar a postura do então presidente da Casa. Segundo ele, a demora na tramitação do pedido configura uma tentativa de esvaziar o impacto da solicitação. O parlamentar afirmou que Pacheco "lavou as mãos" e expôs sua verdadeira face ao só dar prosseguimento ao requerimento quando estava prestes a deixar o cargo.
A movimentação do ex-presidente do Senado gerou reações diversas no meio político. Para alguns aliados do governo, a decisão de Pacheco de registrar os pedidos apenas no final de sua gestão pode ser interpretada como uma estratégia para evitar embates diretos com o Supremo durante seu período de liderança, ao mesmo tempo em que sinaliza um gesto para setores mais conservadores que há tempos pressionam por medidas contra ministros da Corte.
Do outro lado, opositores veem a ação tardia como um sinal de hesitação e até mesmo de conveniência política. Parlamentares que defendem uma postura mais firme contra o STF argumentam que a demora compromete a credibilidade do processo e levanta questionamentos sobre a real intenção de Pacheco ao formalizar os requerimentos somente agora.
O debate sobre o impeachment de ministros do Supremo tem sido recorrente nos últimos anos, especialmente entre setores que criticam decisões da Corte consideradas interferências no poder Legislativo e no Executivo. Alexandre de Moraes, em particular, tem sido alvo frequente dessas críticas devido a seu papel central em investigações contra grupos acusados de disseminação de fake news e atos antidemocráticos.
Apesar da formalização do pedido de impeachment, especialistas avaliam que a chance de o processo avançar no Senado é baixa. Historicamente, requerimentos desse tipo não costumam prosperar, especialmente quando não há um consenso político amplo sobre a necessidade da medida. Além disso, o novo presidente do Senado terá um papel crucial na definição dos rumos dessas solicitações, podendo arquivá-las ou permitir que sejam analisadas pelas comissões competentes.
Enquanto isso, a decisão de Pacheco continua gerando repercussões. O desfecho do caso pode indicar se a relação entre o Legislativo e o Judiciário sofrerá novas tensões ou se o episódio será mais um entre tantos pedidos de impeachment arquivados sem maiores consequências. Para Bibo Nunes e seus apoiadores, o gesto de Pacheco chega tarde e levanta dúvidas sobre sua verdadeira intenção ao longo do mandato. Já para outros setores, trata-se de um movimento esperado dentro da complexa dinâmica política brasileira, onde decisões estratégicas muitas vezes são tomadas nos últimos momentos de uma gestão.