Nos últimos dias de mandato, Pacheco mostra sua verdadeira face

Caio Tomahawk


Nos últimos dias de seu mandato à frente do Senado, o presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG) tem revelado uma postura que tem gerado polêmica e questionamentos. Em um movimento que surpreendeu muitos, ele registrou, apenas agora, um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes. A solicitação, que havia sido protocolada pelo deputado Bibo Nunes (PL-RS) em 28 de agosto de 2024, ficou parada por meses no sistema do Senado, sendo finalmente recebida pela Casa nos últimos dias do mandato de Pacheco.

O pedido de impeachment, que se baseia em supostas adulterações em imagens de uma confusão envolvendo a família de Moraes e a do empresário Roberto Mantovani no aeroporto de Roma, em julho de 2023, gerou uma onda de críticas, principalmente pelo timing de sua formalização. Para muitos, a atitude de Pacheco parece ser uma tentativa tardia de dar vazão a um processo que esteve engavetado por meses, sem justificativa clara para a demora.

A equipe do deputado Bibo Nunes, responsável por protocolar a solicitação, foi notificada na última quinta-feira, 31, pelo sistema Infoleg, que monitora o andamento de propostas e requerimentos no Senado, sobre o registro oficial do pedido. Para o deputado, que havia feito o pedido de impeachment em agosto do ano passado, o momento da formalização parece um movimento político de última hora, em uma tentativa de marcar seu nome nas últimas semanas da presidência de Pacheco.

Em suas redes sociais, Bibo Nunes não poupou críticas à demora na tramitação. "Fiz o pedido em agosto de 2024 e só agora entrou no sistema, quando Pacheco sai da presidência da Casa", escreveu, demonstrando descontentamento com o fato de um requerimento tão relevante ter sido adiado por tanto tempo, apenas para ser formalizado quando o mandato de Pacheco se aproxima do fim.

Além do pedido de impeachment de Moraes, outros seis pedidos contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) foram registrados por Pacheco às vésperas de sua saída da presidência do Senado. A ação gerou ainda mais questionamentos sobre as motivações do presidente, que tem sido acusado de agir de maneira estratégica para agradar a diferentes setores da política, sem, no entanto, tomar decisões efetivas durante o período em que esteve no comando da Casa.

A formalização desses pedidos de impeachment, em um momento tão próximo de sua saída, reflete um padrão de atitudes questionáveis que marcaram a gestão de Pacheco. Muitos observadores políticos acreditam que a atitude de registrar os pedidos de impeachment no final de seu mandato pode ser vista como uma tentativa de deixar um legado de resistência ao STF, uma maneira de se alinhar com movimentos que, durante seu governo, se fortaleceram dentro do Congresso Nacional.

Esse tipo de atitude não é inédito na política brasileira, onde os tempos finais de mandato frequentemente são marcados por gestos simbólicos e movimentos estratégicos que tentam consolidar a imagem de certos políticos. No entanto, a grande questão que surge agora é a real motivação de Pacheco ao tomar essa decisão. Seria um esforço sincero para conduzir os processos de impeachment ou uma tentativa de deixar uma marca em um momento de transição?

A movimentação em torno dos pedidos de impeachment também levanta discussões sobre o papel do Senado no cenário político atual. O STF, especialmente sob a presidência de Moraes, tem se tornado alvo constante de críticas, principalmente entre parlamentares e apoiadores de figuras políticas que buscam questionar as decisões da Corte. A formalização dos pedidos de impeachment de ministros do STF, como o de Moraes, é parte de um movimento maior que visa enfraquecer a atuação do Supremo, algo que se intensificou no período pós-eleitoral, com vários políticos e partidos em busca de uma reconfiguração das relações de poder no país.

Pacheco, por sua vez, tem tentado manter uma imagem de imparcialidade, mas sua postura recente, com a formalização tardia dos pedidos de impeachment, sugere uma mudança no rumo de sua liderança no Senado. O questionamento sobre sua verdadeira face à frente da Casa legislativa começa a ganhar força, principalmente entre aqueles que o viam como uma figura moderada, capaz de navegar por entre as pressões de diferentes forças políticas.

Em um momento de grande polarização política, a atitude de Pacheco também pode ser interpretada como uma resposta às demandas de seu partido, o PSD, e de outros aliados, que buscam reforçar sua posição em relação ao STF. No entanto, é evidente que sua gestão à frente do Senado, marcada por uma série de decisões controversas e pela procrastinação de questões importantes, será lembrada de maneira ambígua. O pedido de impeachment contra Moraes, longe de ser um ato isolado, reflete as tensões e desafios que marcaram a política brasileira nos últimos anos, e a figura de Pacheco, agora em seus dias finais à frente da presidência do Senado, parece ser um reflexo das disputas de poder que ainda dominarão o cenário político do país por algum tempo.

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