O parlamentar norte-americano, que se encontrou nesta quarta-feira, dia 12, com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), levantou a hipótese de que a administração de Joe Biden teria interferido no pleito brasileiro. “Se o governo dos EUA tivesse financiado a derrota de Bolsonaro por Lula, isso te incomodaria?”, escreveu o senador. Em seguida, Lee reforçou sua indignação e questionou seus seguidores: “Eu ficaria lívido. Quem está comigo nessa?”.
A publicação de Mike Lee foi uma resposta a um post de uma página conservadora que havia sido bloqueada pela Justiça brasileira. A conta censurada alegava que Biden teria financiado uma “fraude eleitoral contra Bolsonaro” por meio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), que tradicionalmente investe recursos em programas de fortalecimento institucional e combate à desinformação em diferentes países.
Elon Musk, conhecido por suas opiniões controversas e sua defesa da liberdade de expressão, respondeu diretamente ao senador. “Bem, o ‘deep state’ dos EUA fez exatamente isso”, escreveu o bilionário. O termo “deep state” é frequentemente utilizado por setores da direita para descrever uma suposta rede de poder paralela dentro do governo norte-americano, que atuaria de forma independente das autoridades eleitas para influenciar decisões políticas dentro e fora do país.
A fala do empresário veio em um momento de crescente tensão entre apoiadores de Bolsonaro e instituições brasileiras, especialmente após recentes bloqueios judiciais a perfis conservadores em redes sociais. O próprio Musk já havia se posicionado contra decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a remoção de contas e perfis acusados de disseminar desinformação. O dono do X chegou a desafiar publicamente as ordens judiciais brasileiras e ameaçou reativar contas que haviam sido suspensas, argumentando que as ações configuravam censura.
A declaração de Musk ocorreu dois dias depois da chegada de Eduardo Bolsonaro a Washington D.C. para uma série de reuniões com congressistas ligados ao ex-presidente Donald Trump. O filho de Bolsonaro tem buscado apoio internacional para denunciar o que chama de perseguição política no Brasil, principalmente após seu pai ter sido declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e enfrentar processos judiciais que investigam sua conduta durante o mandato.
A discussão sobre uma possível interferência externa nas eleições brasileiras ganhou força entre aliados de Bolsonaro após a divulgação de documentos que mostram a participação do TSE em um estudo internacional sobre o combate à desinformação. O projeto contou com financiamento de programas da Usaid e envolveu o intercâmbio entre o tribunal e ONGs que recebem apoio financeiro da agência americana. Para setores da direita brasileira, essa relação indicaria uma tentativa de influência do governo Biden no processo eleitoral de 2022.
O debate também ressurge em um contexto de tensões entre Musk e o governo brasileiro. Recentemente, o empresário declarou que há um risco de censura institucionalizada no Brasil e criticou a atuação do Judiciário em decisões que, segundo ele, restringem a liberdade de expressão. Essas declarações aproximaram ainda mais o bilionário da base bolsonarista, que vê no dono do X um aliado contra o que consideram abusos do STF e do TSE.
Até o momento, nem o governo de Joe Biden nem a Usaid comentaram diretamente as acusações levantadas por Musk e políticos conservadores. O TSE também não se manifestou sobre as novas críticas, mas já negou anteriormente qualquer influência externa no pleito de 2022. A Corte Eleitoral reforça que suas ações para combater a desinformação seguem padrões internacionais e são respaldadas por organizações voltadas à integridade eleitoral.
A fala de Musk, no entanto, alimenta o discurso de que houve interferência estrangeira no resultado das eleições e deve continuar repercutindo entre apoiadores de Bolsonaro. A oposição a Lula no Brasil e aliados da direita americana veem na narrativa uma forma de deslegitimar a vitória do petista e fortalecer movimentos que questionam a lisura do sistema eleitoral brasileiro.
Com a crescente polarização política no Brasil e nos Estados Unidos, a afirmação de Musk pode servir como combustível para novas acusações e debates sobre os limites da influência internacional em processos democráticos. O episódio também reforça o papel do bilionário como figura central na guerra de narrativas entre governos e setores políticos, especialmente no que diz respeito à liberdade de expressão e ao uso das redes sociais como ferramenta de mobilização e contestação.