O ex-presidente Jair Bolsonaro revelou nesta quarta-feira (5) que esteve em contato com o novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, para discutir a possibilidade de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. Segundo Bolsonaro, Motta demonstrou abertura para pautar o tema, desde que haja apoio da maioria dos líderes partidários. O ex-presidente reforçou que a decisão final sobre a tramitação do assunto cabe ao Congresso, mas destacou a importância de tratar a questão não apenas no âmbito político, mas também sob um viés humanitário.
Bolsonaro classificou como "absurdas" as penas aplicadas aos condenados pelos atos e citou casos de pessoas que enfrentam dificuldades extremas em função das prisões, incluindo mães com filhos pequenos e cidadãos que buscaram refúgio em outros países. Para ele, a revisão dessas sentenças é necessária para evitar injustiças e permitir que os envolvidos tenham a chance de recomeçar suas vidas.
A anistia para os manifestantes presos tem sido um dos temas mais debatidos entre apoiadores do ex-presidente, que veem nas condenações uma medida excessiva e politicamente motivada. Por outro lado, setores do governo e do Judiciário argumentam que os atos representaram uma tentativa de subverter o regime democrático e que as punições aplicadas foram proporcionais à gravidade dos crimes. O presidente da Câmara, Hugo Motta, tem evitado posicionamentos públicos definitivos sobre o tema, mas seu compromisso de pautar debates que contem com apoio da maioria dos líderes partidários pode abrir espaço para a discussão da anistia no Legislativo.
O tema reacende o embate entre Bolsonaro e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que tem sido um dos principais responsáveis pelos processos contra os envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Moraes já deixou claro que não tolerará qualquer tentativa de subverter as decisões judiciais e tem adotado uma postura rígida contra os acusados. Em janeiro deste ano, ao completar dois anos dos eventos de 2023, ele chegou a afirmar que qualquer tipo de comemoração da data poderia resultar em prisões, o que gerou reações de setores conservadores.
Enquanto a discussão sobre anistia avança no Congresso, uma editora conservadora decidiu lançar um livro que promete revelar os bastidores do 8 de janeiro. A obra apresenta relatos sobre a condução das investigações, a prisão do ex-ministro Anderson Torres, as suspeitas de uma "minuta do golpe" e a atuação do general G. Dias nos dias que antecederam os atos. A publicação tem sido divulgada como uma oportunidade para que os leitores conheçam uma versão alternativa dos eventos, em contraponto à narrativa oficial apresentada pelo governo e pelo Judiciário.
A questão da anistia também tem impacto direto na estratégia política de Bolsonaro. O ex-presidente ainda enfrenta desafios jurídicos que podem comprometer sua elegibilidade para 2026, e a postura que ele adotar diante da situação dos presos do 8 de janeiro pode influenciar sua base de apoio. Nos últimos meses, Bolsonaro tem intensificado suas aparições públicas e declarações sobre o tema, reforçando o discurso de que as penas foram desproporcionais e que seus apoiadores estão sendo perseguidos.
O ambiente político em Brasília segue polarizado, e a eventual tramitação de uma anistia para os manifestantes do 8 de janeiro promete gerar intensos debates no Congresso. Com a nova composição da Câmara e do Senado, parlamentares aliados a Bolsonaro tentarão articular uma base suficiente para pressionar a pauta, enquanto a oposição buscará barrar qualquer iniciativa que possa enfraquecer as decisões judiciais já tomadas.
Nos bastidores, a equipe do presidente Lula acompanha o desenrolar das discussões com atenção. O governo tem interesse em evitar que a anistia avance, pois isso poderia ser interpretado como uma derrota política e um sinal de fragilidade diante da oposição. Além disso, setores da esquerda argumentam que conceder anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro abriria um precedente perigoso para futuros ataques à democracia.
A pressão sobre Hugo Motta também cresce. Embora ele tenha prometido pautar temas que contem com apoio parlamentar, colocar a anistia em debate pode trazer repercussões políticas significativas para sua gestão à frente da Câmara. A decisão sobre levar ou não o tema para votação pode impactar sua relação com diferentes grupos dentro do Congresso e influenciar o andamento de outras pautas legislativas.
Enquanto isso, Bolsonaro segue em campanha para fortalecer sua imagem política e garantir que sua influência continue relevante nos próximos anos. O ex-presidente aposta na mobilização de sua base para pressionar o Congresso e criar um ambiente favorável à anistia. A polarização em torno do tema reflete o atual cenário político do Brasil, onde as disputas entre governo, oposição e Judiciário continuam acirradas.
Nos próximos meses, o desfecho dessa questão dependerá da capacidade de articulação dos aliados de Bolsonaro no Congresso, da postura do STF diante das movimentações políticas e da reação da opinião pública a um eventual avanço da proposta de anistia. O debate promete continuar gerando controvérsias e será um dos principais pontos de tensão na política brasileira ao longo de 2025.