O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), foi alvo de checagem na plataforma X após fazer uma declaração que gerou controvérsia. Durante a cerimônia de abertura do ano do Judiciário, Barroso afirmou que o custo total do Judiciário para o país inclui também as despesas do Ministério Público e da Defensoria Pública. No entanto, a comunidade de usuários da rede social contestou a veracidade dessa afirmação, levando à inclusão de uma nota de contexto no post que repercutia o discurso do magistrado.
O trecho destacado da fala de Barroso indicava que o Judiciário brasileiro teria custado 132,8 bilhões de reais ao país em 2024, representando 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB). O ministro também argumentou que esse custo englobaria outras instituições do sistema de Justiça, além de afirmar que o próprio Judiciário arrecadou cerca de 56,74 bilhões de reais no mesmo período, cobrindo aproximadamente 52% das próprias despesas. Ainda segundo ele, a maior parte dos processos judiciais no Brasil ocorre com gratuidade de Justiça, o que, em sua visão, demonstra que o Judiciário subsidia a atuação da Fazenda Pública e garante acesso aos mais pobres.
No entanto, a comunidade do X prontamente rebateu a declaração. Com base nos dados do Painel de Despesas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), usuários apontaram que os 132,8 bilhões de reais mencionados pelo ministro se referem exclusivamente aos gastos do Poder Judiciário em 2023, sem incluir as despesas dos ministérios públicos e das defensorias públicas, como Barroso afirmou. Essa correção foi adicionada ao post por meio das "Notas da Comunidade", um sistema colaborativo da plataforma que permite aos usuários fornecerem contexto adicional a publicações que possam ser enganosas ou imprecisas. Para que uma nota seja exibida publicamente, ela precisa ser avaliada como útil por um número significativo de colaboradores com diferentes perspectivas.
Os números oficiais do CNJ reforçam a correção feita pelos usuários da rede social. De acordo com o relatório Justiça em Números 2024, o custo do Judiciário brasileiro registrou um aumento de 9% em relação ao ano anterior, saltando de 121,77 bilhões de reais em 2022 para 132,75 bilhões de reais em 2023. Esse crescimento foi superior à inflação acumulada do período, que ficou em 4,62%. O documento também revela que a maior fatia dessas despesas foi destinada ao pagamento de pessoal, incluindo salários, benefícios e encargos trabalhistas dos servidores e magistrados.
Essa não é a primeira vez que declarações de Barroso geram polêmica nas redes sociais. O ministro tem sido alvo frequente de críticas por setores da sociedade que questionam suas falas e decisões à frente do STF. O episódio recente levanta discussões sobre a transparência e a precisão das informações divulgadas por autoridades públicas, especialmente quando se trata de temas sensíveis como o orçamento do Judiciário.
A repercussão do caso também reaquece o debate sobre o papel do Supremo Tribunal Federal e seu impacto financeiro para o país. O orçamento do Judiciário é um tema recorrente no cenário político, com frequentes questionamentos sobre os altos custos de sua manutenção e a necessidade de maior eficiência na gestão dos recursos públicos. Enquanto alguns defendem que o valor investido se justifica pelo volume de processos e pela complexidade do sistema judicial brasileiro, outros argumentam que é preciso encontrar formas de reduzir gastos e tornar a Justiça mais acessível e célere para a população.
O episódio reforça a influência das redes sociais na checagem de informações e na responsabilização de figuras públicas por suas declarações. A funcionalidade das "Notas da Comunidade" no X tem se mostrado uma ferramenta eficaz para corrigir informações potencialmente enganosas, permitindo que o público tenha acesso a dados mais precisos. Entretanto, também levanta questionamentos sobre os critérios utilizados para validar essas correções e sobre a possibilidade de viés na seleção das notas exibidas.
Diante da repercussão, ainda não houve um posicionamento oficial de Barroso sobre a correção feita pela comunidade do X. Resta saber se o ministro responderá ao episódio ou se manterá sua declaração original. Enquanto isso, a polêmica continua circulando nas redes sociais, alimentando debates sobre a transparência do Judiciário e a responsabilidade das autoridades na divulgação de informações ao público.