A Justiça Eleitoral de Goiás decidiu pela inelegibilidade do governador Ronaldo Caiado, do União Brasil, e determinou a cassação do registro de Sandro Mabel, prefeito eleito de Goiânia, pelo mesmo partido. A decisão foi proferida na manhã desta quarta-feira (11) em caráter liminar pelo Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO). Ambos foram acusados de abuso de poder político durante o período eleitoral, em uma ação que teve como base o uso do Palácio das Esmeraldas, sede oficial do governo estadual, para eventos em apoio à candidatura de Mabel.
A investigação teve início após denúncia feita pela chapa de Fred Rodrigues, do PL, que disputava a Prefeitura de Goiânia. Segundo a acusação, os eventos realizados no Palácio das Esmeraldas configuraram desvio de finalidade, com o espaço público sendo utilizado para fins de promoção política e eleitoral. O caso foi analisado pela juíza eleitoral Maria Umbelina Zorzetti, que determinou a inelegibilidade de Caiado por um período de oito anos, a contar das eleições de 2024. Além disso, a magistrada também estabeleceu multas de R$ 60 mil para Caiado, R$ 40 mil para Sandro Mabel e R$ 5,3 mil para Cláudia Lira, vice na chapa de Mabel.
Na decisão, Maria Umbelina criticou duramente o comportamento do governador, afirmando que ele agiu em flagrante desrespeito à legislação eleitoral. “Não se espera de um político da sua envergadura tamanho descaso com a legislação eleitoral, inclusive porque está assessorado por advogados com larga experiência em matéria eleitoral. Restou demonstrado que o investigado usou de seu poder de governador do estado e, em franco desvio de finalidade, organizou os eventos eleitoreiros, convocou seus convidados, subiu na tribuna e fez campanha eleitoral dentro de um prédio que pertence ao Estado de Goiás”, declarou a juíza.
A decisão de inelegibilidade tem impacto significativo no cenário político goiano, visto que Ronaldo Caiado é uma das principais figuras do União Brasil e um nome de peso em nível nacional. A sentença, no entanto, ainda é de primeira instância, e a defesa do governador poderá recorrer no prazo de três dias. Apesar da possibilidade de recurso, a decisão já gera um clima de instabilidade política no estado, com especulações sobre as consequências para as próximas eleições e o futuro de Caiado no partido.
Sandro Mabel, que teve seu registro de candidatura cassado, também enfrenta um momento delicado. Sua campanha foi amplamente apoiada por Ronaldo Caiado, o que, segundo a decisão judicial, contribuiu para a configuração do abuso de poder político. O uso do Palácio das Esmeraldas como plataforma de campanha foi apontado como uma violação grave, uma vez que o espaço público deveria ser preservado de interesses eleitorais. O caso também lança dúvidas sobre a legitimidade de sua eleição, abrindo caminho para novos debates e possíveis mudanças no cenário político municipal.
A repercussão da decisão foi rápida, e lideranças políticas locais e nacionais já começam a se posicionar. O deputado Gustavo Gayer, um dos nomes mais ativos da oposição em Goiás, publicou um vídeo nas redes sociais detalhando o processo e comentando a decisão. No vídeo, Gayer destacou o que chamou de “desrespeito às instituições democráticas” por parte do governador e do prefeito eleito. Ele também sugeriu que esse caso serve como um alerta para o uso da máquina pública em campanhas eleitorais, reafirmando a necessidade de fiscalização e punição rigorosa para quem desrespeita a lei.
A defesa de Ronaldo Caiado e Sandro Mabel ainda não se manifestou oficialmente, mas fontes próximas ao governador indicam que os advogados já estão preparando o recurso. Eles argumentam que a decisão foi precipitada e que não houve abuso de poder político nos eventos realizados no Palácio das Esmeraldas. A equipe de defesa deve centrar sua argumentação na interpretação do que constitui desvio de finalidade no uso do espaço público e na ausência de provas concretas que demonstrem influência direta nos resultados das eleições.
Enquanto isso, a oposição comemora o desfecho inicial do caso, vendo na decisão uma oportunidade para reorganizar suas estratégias e conquistar espaço nas próximas eleições. Fred Rodrigues, autor do pedido de investigação, ainda não se pronunciou publicamente, mas aliados próximos indicam que ele pretende reforçar sua posição como alternativa viável para liderar Goiânia, especialmente diante do enfraquecimento da imagem de Caiado e Mabel.
O caso também reacende o debate sobre o papel dos tribunais eleitorais na manutenção da integridade das eleições no Brasil. Especialistas apontam que decisões como essa são fundamentais para coibir práticas abusivas e garantir a igualdade de condições entre os candidatos. No entanto, também há quem critique a judicialização da política, argumentando que decisões liminares podem gerar instabilidade e interferir na vontade popular expressa nas urnas.
Nos próximos dias, o cenário político em Goiás promete ser marcado por intensos desdobramentos. A possibilidade de recurso abre margem para uma reviravolta no caso, mas, por ora, a decisão do TRE-GO representa um duro golpe para Ronaldo Caiado e Sandro Mabel, colocando em xeque suas trajetórias políticas e trazendo à tona discussões sobre ética e transparência no uso da máquina pública.