Mauro Cid joga balde de água fria na última narrativa do "sistema"

Gustavo Mendex


 O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmou durante depoimento à Polícia Federal (PF) na última quinta-feira (5) que não possui informações sobre qualquer envolvimento do antigo presidente em supostos planos para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. A declaração foi feita no contexto de investigações conduzidas pela PF que apuram a possível existência de um plano de golpe de Estado, cujo inquérito resultou no indiciamento de 37 pessoas, incluindo Bolsonaro e Cid.


O depoimento de Mauro Cid foi solicitado após declarações de seu advogado, Cezar Bittencourt, à GloboNews, gerarem repercussão. Na entrevista, Bittencourt afirmou que Bolsonaro teria ciência de um plano, mas posteriormente explicou que não estava se referindo a um "plano de morte". Durante o depoimento, Bittencourt, que acompanhava seu cliente, reconheceu que suas palavras foram mal interpretadas e esclareceu o equívoco. A Polícia Federal, no entanto, considerou necessário ouvir novamente Mauro Cid para confirmar que ele não tinha qualquer conhecimento sobre o alegado plano.


Ao ser questionado pelas autoridades, Cid reiterou que desconhecia qualquer esquema ou discussão envolvendo supostos assassinatos das mencionadas autoridades. Apesar das especulações, as investigações da Polícia Federal até o momento não encontraram evidências sólidas que conectem Cid diretamente a um plano dessa natureza. A ausência de provas contundentes reforçou a posição do ex-ajudante de ordens, que sustentou não ter sido informado ou participado de qualquer tipo de articulação nesse sentido.


O inquérito sobre o qual Mauro Cid foi ouvido faz parte de um conjunto mais amplo de investigações relacionadas a tentativas de desestabilização institucional no país, que vieram à tona após os ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro deste ano. Nesse contexto, a PF busca desvendar possíveis articulações que visavam deslegitimar o governo eleito e planejar ações contrárias ao regime democrático.


Cid, que já havia sido preso em ocasiões anteriores no curso das investigações, também foi acusado de descumprir medidas cautelares e obstruir a Justiça. Em março, áudios atribuídos ao militar foram vazados, nos quais ele criticava o relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, e alegava que estava sendo pressionado pelas autoridades a fazer delações sobre situações que, segundo ele, não ocorreram. Esses áudios geraram uma nova onda de repercussões e levantaram questionamentos sobre os métodos empregados pela investigação.


A posição de Mauro Cid e de sua defesa tem sido a de afastar qualquer vínculo com planos de assassinato ou outras ações radicais atribuídas a figuras do círculo próximo de Bolsonaro. Ainda assim, o nome do ex-ajudante de ordens permanece no centro das investigações sobre as tentativas de golpe, devido à sua proximidade com o ex-presidente e seu suposto envolvimento em outras atividades relacionadas à contestação dos resultados das eleições presidenciais de 2022.


Embora a Polícia Federal tenha intensificado seus esforços para avançar na apuração desses casos, a ausência de provas concretas contra Cid em relação aos supostos planos de assassinato reforça a dificuldade de construir uma acusação sólida. Por outro lado, o inquérito que apura a tentativa de golpe segue em andamento, com novos desdobramentos sendo esperados nos próximos meses.


O caso também ressalta a complexidade política e jurídica em torno das investigações relacionadas ao ex-presidente Bolsonaro e seu círculo mais próximo. Enquanto opositores defendem a responsabilização de todos os envolvidos em possíveis atos antidemocráticos, aliados do ex-presidente acusam as autoridades de conduzirem investigações motivadas politicamente. Esse embate reflete a polarização que continua a marcar o cenário político brasileiro.


Por fim, o depoimento de Mauro Cid, somado ao esclarecimento de seu advogado, contribuiu para enfraquecer as acusações específicas de um plano de assassinato contra figuras do governo e do STF. No entanto, a repercussão do caso evidencia como a proximidade entre Cid e Bolsonaro mantém o militar sob o escrutínio das autoridades e da opinião pública. Enquanto as investigações continuam, a busca por respostas sobre os eventos que abalaram o país no início do ano segue como um dos principais desafios para o sistema de Justiça e para a consolidação da democracia brasileira.
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