Lula se manifesta sobre a prisão do General Braga Netto

Gustavo Mendex



O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manifestou sobre a prisão do general Walter Braga Netto durante uma entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo. Em um tom de lamento, Lula criticou o envolvimento de figuras militares no que chamou de tentativa de golpe no país, classificando o episódio como “triste” para a democracia brasileira.


“Fiquei acompanhando notícias políticas com muita tristeza. Saber que pessoas que passaram a vida inteira recebendo dinheiro da União para cuidar da soberania nacional estavam tramando um golpe nesse país”, afirmou o presidente.


A declaração de Lula reflete uma crítica contundente ao papel que integrantes das Forças Armadas desempenharam em ações contra o sistema democrático. O petista destacou o simbolismo de figuras com alta patente militar estarem envolvidas em planos para derrubar a ordem constitucional.


“É muito triste. É muito triste para quem começou a brigar pela liberdade democrática, ainda muito jovem, sabe? Que participou da campanha das diretas, muito jovem, sabe? Que foi para a rua fazer as primeiras diretas desse país muito jovem. É muito triste saber que pessoas que chegaram ao cargo de General de quatro estrelas montaram uma máquina de saber. Moldado nesse país e queriam dar um golpe. Sabe?”, completou.


As palavras do presidente têm peso histórico. Lula fez referência ao seu papel na luta pela redemocratização durante a década de 1980, período em que o Brasil viveu o fim da ditadura militar. Ao mencionar sua participação nas campanhas das Diretas Já, ele ressaltou o contraste entre as figuras que lutaram pelo retorno das eleições livres e aqueles que, anos depois, teriam conspirado contra o sistema democrático.


Ainda durante a entrevista, Lula abordou o comportamento dos derrotados nas urnas, fazendo uma comparação com sua própria trajetória política. Ele afirmou que a atitude de tramarem um golpe foi grave e que, em um sistema democrático, é necessário respeitar a vontade popular.


“Eu perdi quatro eleições. Cada vez que eu perdia uma eleição, eu ia para casa chorar minhas marcas, reclamar e me preparar. Então, é muito grave o que eles fizeram. É muito grave. Eu fiquei chocado. Fiquei chocado”, disse o presidente.


Em meio às críticas ao que considera uma grave violação democrática, Lula também defendeu o direito de defesa dos acusados. Sua fala evidenciou uma lembrança ao período em que ele mesmo enfrentou processos judiciais que o retiraram das eleições presidenciais de 2018.


“Eu vou te dizer uma coisa: Eu defendo que eles tenham a presunção de inocência que eu não tive. Eu quero que eles tenham todo o direito de defesa. Mas, se for verdade a das acusações, essa gente tem que ser punida severamente para que sirva de exemplo ao Brasil”, afirmou o presidente.


A prisão do general Walter Braga Netto reacendeu discussões sobre a atuação de figuras próximas ao ex-presidente Jair Bolsonaro no contexto pós-eleitoral de 2022. O caso coloca o sistema judiciário e a condução das investigações sob holofotes, especialmente diante das acusações de que parte da cúpula militar teria articulado para reverter o resultado eleitoral.


Aliados do ex-presidente Bolsonaro têm interpretado a prisão do general como um movimento estratégico para atingir diretamente o ex-mandatário. A narrativa de uma suposta “perseguição” ao ex-presidente ganhou espaço entre seus apoiadores, que acreditam que a detenção faz parte de uma tentativa deliberada de incriminá-lo e fragilizar sua posição política.


A prisão de Braga Netto, que foi ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022, representa mais um capítulo delicado na relação entre as Forças Armadas e a política brasileira. O envolvimento de figuras militares em articulações contra a democracia coloca à prova os mecanismos institucionais do país e levanta debates sobre o papel das Forças Armadas na atual conjuntura.


Nos últimos meses, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) têm intensificado investigações relacionadas a atos antidemocráticos, com foco em líderes políticos, civis e militares. O avanço dessas apurações tem levado a prisões e investigações que atingem diretamente a cúpula bolsonarista.


Por outro lado, setores críticos ao governo e ao sistema judicial argumentam que as ações representam uma tentativa de criminalizar adversários políticos e, com isso, reescrever a narrativa dos últimos anos. As acusações contra Braga Netto e outros nomes próximos a Bolsonaro são vistas como parte de uma estratégia para enfraquecer o movimento conservador no país.


Independentemente das interpretações, a prisão do general Walter Braga Netto evidencia as tensões que ainda cercam a política brasileira após as eleições de 2022. As investigações devem continuar desdobrando novos capítulos, com potencial impacto sobre o futuro político de figuras centrais no cenário nacional.
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